A favela é muito além do que se vê

Favela 3D: Jovens disputam o imaginário popular para construir novas narrativas

O conjunto de favelas da Maré pode ser pensado como um grande centro. Além da densidade de pessoas que moram naquela região, que a partir de 1994 foi considerado bairro pelo município do Rio, ela se situa entre as principais vias expressas da cidade: Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha.

Nesse contexto, jovens de diferentes territórios passaram a se encontrar na ESPOCC – Escola Popular de Comunicação Crítica, um projeto do Observatório de Favelas para ampliar conhecimentos e criar redes. Depois de meses de acúmulo de conhecimento e algumas práticas, foi chegada a hora do TCC: o velho conhecido Trabalho de Conclusão de Curso aqui pode ser ressignificado também como Trabalho Coletivo e Criativo.

Com muitas sessões de brainstorm, as inquietações dos jovens vieram à tona: era preciso mostrar que a favela não é homogênea e que nela há um potencial enorme. É nítido que os grandes meios de comunicação, muitas vezes, acabam por ampliar e perpetuar os estereótipos  em torno dos moradores desses territórios. A história única, como citou a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi, é um perigo enorme para a vida.

Aliando pesquisas de território, cultura e até psicologia, eis que surge a campanha Favela 3D, com o propósito de mostrar a favela como local de potência e favelados e faveladas como sujeitos potentes da cidade, ampliando a perspectiva para “muito além do que se vê”.

stencil
Foto: Andressa Núbia

A partir dos três D’s (Disposição, Diversidade e Direitos), a campanha começa com uma ação de disposição, realizando nos muros da cidade intervenções artísticas com stencil – técnica ligada ao grafiti para aplicações rápidas de imagem. Destacando a diversidade, um flashmob misturando dançarinos de passinho e instrumentistas da Orquestra Maré do Amanhã aconteceu em plena Maré, no dia 19 de maio (o vídeo ao vivo no Facebook chegou a mais de 25 mil visualizações em 2 dias). 

Um conjunto de atividades acabou por formar a Conferência 3D, que somou forças com a Ocupação de 10 anos da Cia Marginal no Centro de Artes da Maré, o Papo 3D, roda de conversa que reuniu jovens favelados que desempenham atividades em seus territórios, e ainda a Festa de Lançamento da campanha/Formatura da ESPOCC.

Dentre os produtos audiovisuais, foram lançados alguns episódios da série Jovens Potentes e ainda serão lançados o vídeo spot do Manifesto da campanha e o curta metragem Ocupa Tudo, que registrou as ocupações da escolas estaduais a partir do protagonismo da juventude.

O que a campanha mostra é que é possível construir novas narrativas sem romantizar a realidade. A quebra de estereótipos é preciso ser feita em mão dupla: de dentro para fora e de fora para dentro das favelas.