Mais uma vez o estado do Rio de Janeiro é o alvo de tragédias naturais no verão. Mas a tragédia mesmo, de natural tem pouco.
Há alguns dias resolvi escrever um texto para o ANF sobre as chuvas e o que ela causa em todo o estado do Rio, antes da tragédia na Região Serrana, e saiu umas quatro folhas. Não cheguei a publicá-lo, mas pelo visto terei de escrever mais, e por escrevo este texto, mais com caráter de indignação, e logo estarei postando o texto que havia escrito explicando o porquê nosso estado sofre tanto com as chuvas no verão, mas antes me senti no dever de escrever sobre o acontecido principalmente em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.
O grande volume de chuva que caiu sobre a região serrana do estado do Rio de Janeiro na madrugada de terça-feira (11), fez com que rios e muitos morros viessem a deslizar. Os municípios mais castigados pelas chuvas foram Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.
Em Nova Friburgo, cidade mais afetada, o rio Bengalas, que corta o centro da cidade transbordou, e diversos pontos da cidade e do interior do município apresentaram deslizamento de encostas, deixando 168 mortos, até o momento da edição desse texto. Em Teresópolis, o número de mortos chega a 161, em Petrópolis os óbitos somam 39 e em Sumidouro já chegam a 17 pessoas mortas, somando 385 vítimas fatais que tendem a subir com o as buscas, além de centenas de feridos, desabrigados e desaparecidos.
Casas e pousadas a margem de rios e na beira de encostas foram completamente destruídas, uma verdadeira avalanche de terra. Alguns bairros simplesmente desapareceram depois que a água abaixou e outros estão completamente submersos a um mar de lama.
Depois do acontecido é muito simples o governo aplicar medidas paliativas e prometer obras, mas apenas saliva não evita mortes. Chamar eventos como esse apenas de “tragédia natural e fatalidade” é fechar os olhos para anos de absoluto abandono da população por parte dos governantes.
Só a título de lembrança, irei listar aqui três acontecimentos relacionados a chuva em diversos pontos do estado nos últimos anos.
2008/2009 – Uma semana de chuvas intensas no interior do estado do Rio de Janeiro faz com que rios importantes do Norte e Noroeste, como Paraíba do Sul, Ururaí, Muriaé e Carangola, além de lagoas, como a Feia e de Cima (em Campos), transbordassem, fazendo com que milhares de pessoas perdessem tudo o que tinham e ficassem desabrigadas.
2010 – Deslizamentos de terra na Ilha Grande e no centro de Angra dos Reis, no sul do estado, deixaram 53 pessoas sem vida e no morro do Bumba, em Niterói, 167 pessoas morreram por causa de um grande deslizamento de terra.
E agora em 2011, a catástrofe se abateu sobre a Região Serrana, sendo, de longe, a pior dentre todas. Segundo levantamento encomendado pela BBC Brasil a um instituto belga, essa é a 5º fato relacionado a chuva mais fatal do mundo nos últimos 12 meses, e caso o número de mortes continue a subir, pode superar o 4º posto, que pertence a um fato semelhante que aconteceu em Uganda, na África, deixando 399 pessoas mortas.
Será que tal fato de nosso estado ser vítima corriqueira dos danos causados pelas chuvas é simplesmente um mero “capricho da natureza”? Acho que a resposta salta aos olhos…
Um dos pontos críticos apontados para que tais tragédias continuem a acontecer ano após ano são as ocupações irregulares das encostas e margens de rios para moradias e pousadas de luxo. É nesse ponto que vem a completa omissão do poder público, que após verem o “leite derramar”, prometem dinheiro para ajudar a reconstrução das cidades atingidas e muitos outros “bla, bla, blas”, mas antes da tragédia, durante o ano inteiro não se pensa numa política pública de moradia que realmente atenda as necessidades dos municípios do estado e uma fiscalização realmente atuante para tirar e evitar com que mais pessoas vão para áreas de riscos passam longe da cabeça de quem deveria zelar pelo povo do estado do Rio de Janeiro.
Enquanto isso, nosso governador vai para Brasília chorar, literalmente, pelo dinheiro dos royalties do petróleo, que deveria ser investido no que foi dito no parágrafo anterior. Enquanto isso, nosso governador e o prefeito da cidade do Rio de Janeiro vão colocar R$ 1 BILHÃO (com perspectiva de estouros) para reformar o Maracanã para a Copa do Mundo, com dinheiro público, e ainda vem a Olimpíada de 2016. Será mesmo que tudo isso é necessário? Será que todo esse dinheiro não poderia ser investido para que a vida, e não o entretenimento seja preservado?
E tão cupado quando a negligência de quem deveria cuidar de nosso estado, é o povo, que parece ter perdido sua capacidade de se revoltar contra absurdos acontecidos em nosso país. Enquanto políticos são declarados culpados em processos de corrupção e voltam ao poder, enquanto bilhões de reais de dinheiro público são jogados pelo ralo sem que se dê nenhuma prestação de contas a população e enquanto tragédias como essas acontecidas na serra continuam, a população assiste em casa, enquanto janta tranquilamente, e depois seguem com a suas vidas normalmente e quando um jornal na TV transmite as informações sobre tragédias e logo depois falam sobre a “última moda de brilho pra lábios”, tudo continuará do jeito que está. Sou apaixonado por futebol e rubro-negro, mas quando Ronaldinho Gaúcho estava para assinar contrato com algum clube brasileiro, e houve uma reunião no Copacabana Palace, a torcida do Flamengo se reuniu, espalhou um comunicado pela internet e várias pessoas se reuniram em frente ao hotel para tentar “sensibilizar” o jogador, assim como aconteceu com a torcida do Grêmio, em Porto Alegre, mas para protestar contra algo realmente importante, ir as ruas, ninguém aparece.
Antes que alguém venha falar algo, quero deixar bem claro que não tenho nenhum ideal político definido e que não tenho simpatia e nem antipatia por nenhum grupo político, apenas tenho amor ao meu estado.