Não bastassem as complicações respiratórias causadas pelo coronavírus, pesquisadores norte-americanos divulgaram na edição da semana passada do “Journal of The American Medical Association”, JAMA, ter encontrado o vírus no cérebro de 36,4% dos 214 pacientes chineses acompanhados. Os sintomas vão de dor de cabeça e tontura a alterações de consciência, convulsões, acidentes vasculares cerebrais (AVC), falta de coordenação motora e fraqueza muscular, perda de olfato, dor nos nervos e derrames.
Em São Paulo, o neurologista Ronaldo Abraham, diretor científico da Associação Paulista de Neurologia, disse que embora o vírus afete principalmente o sistema respiratório tem sido descrito um número cada vez maior de casos em que há também o comprometimento das funções neurológicas: “Temos visto a descrição de casos fatais de encefalites relacionados aos vírus. Os centros respiratórios do tronco cerebral podem estar comprometidos também.”
Autópsias feitas pela equipe do patologista Paulo Saldiva, da USP, em vítimas da Covid-19 já detectou a presença do coronavírus no tecido cerebral de quatro delas, por meio de exame do tipo PCR. Os vírus podem atingir o cérebro de duas formas. Uma mais conhecida é por meio do desencadeamento de uma resposta imune anormal chamada encefalite autoimune. A segunda é a infecção direta do cérebro, chamada encefalite viral.
Segundo Saldiva, os pesquisadores tentam descobrir por meio da autópsia qual o caminho do vírus até o cérebro. Uma hipótese são as vias nasais: “Nunca o sistema nervoso esteve tão próximo da rua. O vírus pode entrar pelo nariz e, pelas vias olfativas e terminações nervosas, chegar ao interior do sistema nervoso.”