A questão sobre a possibilidade de uma sociedade sem escola, que nos assola, só faria sentido se já houvesse uma outra perspectiva a ser proposta. E há. Mais uma vez olhemos para o Chile, ou México. Há anos, lutam contra a privatização da educação. Aqui, esta ocorre de forma silenciosa, aos poucos, legitimando-se entre os principais agentes da educação…A privatização já não seria um primeiro passo para a dissolução? Ou ao menos para a fragmentação?
Todos temos um ideal de educação. E sabemos bem qual o papel da escola neste ideal. Geralmente, sonhamos com uma escola que tenha como objetivo ajudar a compreender a cultura e a civilização e capacitar para transformá-las a partir da vida social. É importante aqui dizer que a civilização, como criação e utilização de instrumentos para a manutenção e transformação da natureza em nosso benefício, pode ser globalizada. A tecnologia sempre ajuda, quando não atrapalha (no caso de tirar empregos por exemplo)…. Contudo, a cultura, que muitas vezes é ideologicamente confundida com a civilização, não é globalizável. O Ethos – modo de ser – de cada povo, foi constituído históricamente, desenvolvendo valores e características que não são globalizáveis. Em discursos ditos progressistas, que apontam como ideal de escola um modelo globalizado e mundializado, sob o falso argumento do diálogo diverso – que na modernidade nos serviu para dominação e imposição das ideias do eurocentro como válidas mundialmente – continuam a poluir a concepção de educação na sociedade.
É este ideal de educação que nos faz caminhar e agir, de acordo com ele, na educação atual. Ao questionar se a escola tem espaço na sociedade atual, já estamos postergando a realização deste não espaço. Pois a partir deste questionamento, que muitas vezes é pernicioso, começamos a idealizar uma sociedade sem escola. E caminhamos para ela.
A escola não é um problema. O problema fundamental, que gera todos os outros problemas sociais, é o ideal de sociedade criado e presente, ainda que em crise. Qual o ideal de pessoa, nesta sociedade? A pessoa rica. Que acumula capital. Bil Gates, por exemplo. Um dos homens mais ricos do mundo, que apesar de ter conseguido ficar rico a partir do roubo de um software de outra empresa, é mostrado a nossas crianças como um exemplo a ser seguido. Esta é a sociedade em que vivemos. A escola é apenas parte dela, que corrobora com este projeto.
Entretanto, se almejamos uma escola ideal, diferente desta que forma para o desemprego, para a mão de obra barata, apartando ricos e pobres, é porque desejamos uma sociedade diferente. E só lutando, educando e preparando-nos par uma sociedade diferente é que a conseguiremos. E isso não será apoiado pelos que usurpam o poder…
Os que estão no poder, querem mantê-lo e usam do que podem para isso. E quando não fazemos nada para combatê-los, estamos corroborando para que tudo continue como está. Mas se queremos uma sociedade diferente, temos que lutar para que ela aconteça…E a escola (e educação) tem papel fundamental nesta luta. Sempre foi assim e sempre será. Um modelo de sociedade entra, fica em crise, há a revolução, ocorre outro modelo que entrará em crise…Mas os que estão no poder, sempre querem perpetuar-se neste. E só o povo (que é o verdadeiro dono do poder) poderá fazer a revolução…
Mas a verborragia pedagógica, continua na superficialidade, ainda que pincele assuntos do centro da questão. Mas só quando irmos ao centro da questão, pensando e agindo, é que mudaremos a sociedade e assim, a educação…
E podemos! E faremos…A pergunta é quando? Quanto mais terá que piorar a sociedade para agirmos?