Favelagrafia retrata olhar sobre a favela no MAM-Rio; veja fotos

Créditos: Anderson Valentim / Favelagrafia

Numa viela do Morro do Borel, jovens descalços, com rostos cobertos, seguram suas armas: cinco instrumentos de sopro. A imagem, que viralizou nas redes sociais em outubro, é uma das 180 fotografias do Favelagrafia, projeto que retrata nove favelas do Rio na visão de nove moradores. O resultado pode ser visto até 04 de dezembro, no pilotis do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio).

Com idades entre 20 e 34 anos, nove fotógrafos clicaram durante três meses as favelas onde vivem, em sua maioria, desde que nasceram. Anderson Valentim (Borel), Elana Paulino (Santa Marta), Jéssica Higino (Mineira), Josiane Santana (Alemão), Joyce Marques (Providência), Magno Neves (Cantagalo), Omar Britto (Babilônia), Rafael Gomes (Rocinha) e Saulo Nicolai (Morro dos Prazeres) foram selecionados pela equipe da agência NBS Rio+Rio, que mantém um escritório no Morro Santa Marta, e receberam a missão de mostrar um olhar único sobre a favela: aquele que vem de dentro. O cotidiano simples, as crianças brincando, o galo do vizinho, os animais nas ruas, os amigos – está tudo lá, traduzido em 180 imagens escolhidas junto com o curador da mostra André Havt.

“Minha comunidade não é bem vista aqui fora. Ela é mais pobre, mais fechada. Eu quis mostrar o lado bom, mas também o ruim, com tudo que eu vejo enquanto moradora e que gostaria que melhorasse”, conta Jéssica Higino, do Morro da Mineira. Clicar a favela foi uma forma de mostrar aquilo que a mídia não mostra. “Minhas fotos são uma maneira de exaltar os artistas e as coisas maravilhosas que acontecem lá. Estou cansada de só ouvir notícias sobre tiroteio”, afirma a estudante de Comunicação Social e moradora do Complexo do Alemão Josiane Santana.

 

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Fotógrafos de nove favelas ganham exposição no MAM-Rio (Créditos: Luiz Mayerhofer)

 

Para o Favelagrafia, os jovens clicaram suas comunidades usando iPhones. Apesar de não serem necessariamente fotógrafos profissionais, todos eles já possuíam alguma experiência prévia ou grande interesse no assunto. O projeto ganhou uma conta no Instagram, que já soma quase 700 publicações e mais de 11 mil seguidores. Fazer as imagens com celular foi um grande facilitador, já que câmeras não são muito bem vistas nas favelas, especialmente aquelas mais violentas. “Não dá pra fazer foto o tempo no Alemão, por exemplo. Se a gente trabalhasse com câmera, seria muito complicado”, afirma Josiane.

E foi do iPhone do quase artista multimídia Anderson Valentim que saiu o clique dos músicos que foi sucesso nas redes sociais. Anderson, que também toca saxofone, fotografou os amigos na imagem que ganhou centenas de curtidas e compartilhamentos. Ele descobriu no Favelagrafia uma nova vocação, além das que já acumula enquanto músico, grafiteiro e designer: os retratos. “Eu gosto de fotografar pessoas. Tenho essa facilidade”, conta ele, que está no 4º ano da graduação de Design Gráfico. O desenvolvimento de um olhar artístico, além da amizade que os nove desenvolveram, foi um grande diferencial para o projeto como um todo: “A gente foi descobrindo o olhar de cada um, que foi sendo desenvolvido ao longo dos meses. Eles aprenderam muito um com outro, mas cada um foi seguindo por um caminho”, conta André Havt, que também é fotógrafo e diretor de arte da NBS Rio+Rio.

Após a exposição no MAM-Rio, o projeto Favelagrafia deve virar site e livro. Os participantes devem ainda receber formação em empreendedorismo para que possam transformar a fotografia em negócio e, quem sabe, inspirar outros jovens a também se tornarem protagonistas não só em suas comunidades, mas de suas próprias histórias. “Tem muito mais gente talentosa por aí nas favelas. Parece que está faltando jogar refletores. Tudo isso aqui é transformador”, finaliza Havt.