Li a matéria do André Fernandes “Favelas ou Comunidades?” ( http://www.anf.org.br/2011/05/favelas-ou-comunidades ), onde discutia o uso dos termos “comunidade” e “favela” para fazer referência às áreas marginalizadas dos centros urbanos cariocas.
Hoje percebo que os favelados apresentam o “seu lugar” aos “de fora” como “comunidade” com a intenção de “aliviar” a carga de estigma que a favela carrega. André em seu texto propõe que essa seja uma “identidade” forjada de “fora para dentro”, as elites chamam a favela de comunidade para minimizar o verdadeiro nome do “problema”: “FAVELA”. Justo.
Mas isso me fez lembrar que na década de 90, “Favela” passou a ser usada com orgulho, construia-se uma identidade. Os problemas dos marginalizados urbanos eram outros mas não eram mais fáceis. Mas ali eles gritavam: “Eu só quero ser feliz, andar tranquilamente na FAVELA que eu nasci”.
Protestavam justamente porque se orgulhavam de suas raízes, diziam de onde se pronunciavam e lutavam por dignidade. Criavam o “espaço”. Produziam sonhos: Faziam fazendo.
O que transforma uma “identidade pejorativa” numa “identidade afirmativa” e o seu vice-versa sem fim nem começo?
Cultura. Isso mesmo: produção ou não de cultura. E cultura se faz agora, é o “já é”, o “demorô”, o tão comprometido “é nós”. Na diversão dos bailes funk, dia-a-dia o favelado construía a nossa identidade. A cultura brota das massas. O funk que arrastava multidões às favelas era um local de lazer e troca riquíssimo entre “ricos” e “pobres”, “playboys” e “favelados”, gente com outras gentes. Essa misturada é de onde emana a riqueza cultural do Brasil. E olha que tem gente que lê, estuda, vira doutor e depois vem dizer que o povão não tem “cultura”. Geralmente esse é o conto de quem acha que “cultura” se produz no laboratório, no gabinete, em livros.
E por falar em literatura, faz bem lembrar também que a grande maioria dos escritores brasileiros que hoje consideramos como clássicos, vieram das massas, eram de famílias pobres –Guimarães Rosa é uma das exceções clássicas, era de família abastada, que antes de escrever “Grande Sertão: Veredas” viveu um tempo acompanhando os sertanejos cangaceiros, e expondo àquela linguagem a qual adentrara, revolucionava a literatura brasileira.
O que melhor representa a Identidade Nacional?
O Parnasianismo ou o Cordel? As Escolas de Música Clássica ou as Escolas de Samba? A Fórmula 1 ou o Futebol?
O que é Cultura?
dudu perere
poeta e cientista