O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva lotou a Concha Acústica da UERJ, que está em greve, na noite desta sexta-feira, 08. Depois de passar pelo Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais, Lula encerrou a caravana “Lula Pelo Brasil” com um discurso para uma plateia diversa e colorida de cerca de três mil estudantes, militantes, personalidades, intelectuais e políticos.
Com quase duas horas de atraso, um lenço vermelho no pescoço e vestindo uma camisa da campanha “UERJ na Luta”, Lula foi recebido como um popstar pela multidão que pintou de vermelho o anfiteatro da universidade. Ele subiu ao palco e falou durante cerca de 40 minutos sobre economia, eleições de 2018 e, principalmente, educação. “Quando é que a gente vai assumir a responsabilidade de compreender que nenhum país do mundo será desenvolvido se não investir na educação? Educação é o mais duradouro investimento que um estado pode fazer”, afirmou.
Lula condenou o sucateamento da UERJ e a falta de investimentos no setor, lembrando que criou 14 universidades no país durante seus dois mandatos (2003-2006 e 2007-2010). “O presidente sem diploma universitário foi quem mais fez universidades neste país”, disparou, para delírio da plateia, composta principalmente por jovens e estudantes.
Afirmou apoiar o direito legítimo de greve dos trabalhadores e que nunca deixou atrasar salários em sua gestão – as greves enfrentadas pelas universidades e institutos federais em 2003, 2004 e 2005 lutavam por melhores condições de trabalho, remuneração e contra a Reforma da Previdência. O ex-presidente, que é pré-candidato às eleições de 2018, prometeu ainda federalizar o Ensino Médio caso seja eleito.
Entre críticas à Reforma Trabalhista, à Operação Lava-Jato, ao juiz Sergio Moro e à gestão Temer, Lula lamentou a crise do Rio de Janeiro e sugeriu que a solução para a criminalidade está nos investimentos em inteligência e remuneração para os agentes de segurança, mas também em ações que priorizem a educação e salário para os trabalhadores.
– Eu digo sempre pra quem eu torço. Nesse momento, torço para um time chamado Rio de Janeiro. Não existe nenhuma saída para o Rio sem participação do Governo Federal. Tem que ser logo, não pra 2018. Quem tem necessidade, quem tem fome não pode esperar mais um ano.
Militantes de periferia e políticos marcam presença
Personalidades da esquerda do Rio e de outros estados, como Benedita da Silva, Jandira Feghali, Lindbergh Farias, Celso Amorim e Fernando Haddad, compareceram ao ato de Lula na UERJ. A cantora Teresa Cristina também esteve presente.
Muitos representantes das periferias participaram do evento. O morador do Complexo do Alemão, estudante da FAETEC e vice-presidente da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas do Rio Malcon Ozório subiu ao palco e criticou o desmonte da educação em uma fala arrebatadora.
– A gente não tem uma crise, a gente tem um projeto. É um projeto para acabar com educação pública, para acabar com UERJ, UENF, UEZO, FAETEC, tudo que faz com os pretos e pretas, pobres, favelados, entrem na universidade, em um curso técnico e mudem de vida, tenham uma vida digna, afirmou o jovem de 19 anos em entrevista à equipe da ANF.
O militante Walmyr Junior, da Favela da Kelson’s, também criticou os excessos das operações da Polícia Federal por conta da Operação Lava-Jato e as relacionou aos excessos na conduta das forças militares que agem dentro das favelas.
– Existe um estado de exceção hoje. É importante denunciarmos que esse estado de exceção gera um impacto muito grande na vida da população. A gente sofre isso na favela todo dia, com a dura da Polícia Militar, do estado totalitário que invade as nossas casas, revira nossas roupas, viola nossos direitos. É importante que o Partido dos Trabalhadores tenha isso na sua pauta.
Na plateia, a estudante de Letras e moradora de São Gonçalo Daiana dos Santos Rodrigues estava ansiosa para ver o ex-presidente. Ela contou para a equipe da ANF que seu pai voltou a estudar na era Lula e teve a chance de melhorar de emprego. “Durante o mandato, ele conseguiu colocar a renda do nosso país na mão do nosso povo. É isso que faz o país andar. A gente precisa que a população tenha acesso às coisas”.
O clima da noite se manteve festivo e não chegou a ser interrompido pelos seis manifestantes, simpatizantes do também pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro, que tentaram entrar na UERJ antes do início do evento com cartazes contra o ex-presidente e acabaram barrados pela segurança. A fotógrafa Bárbara Dias, da ANF, chegou a ser ofendida por um deles. A Polícia Militar dispersou a pequena movimentação com bombas de gás.
Colaboraram Bárbara Dias, Danielle Policarpo, Ellen Tayná e Vitor Pastana.