O município do Rio de Janeiro é mistura carioca. No transporte, somos embalados pelo vai-e-vem dos ônibus, compostos por uma mistura étnica. Nós nos transportamos da Zona Norte a Zona Sul e vice-versa. O colorido da pele que nos separa nos une no ônibus, disfarçando a reprodução da branquitude brasileira.
No caminho, conhecemos as belezas urbanas das favelas, a beleza histórica do Centro e a Zona Sul. Ah, a Zona Sul! Praias lindas! Ouço nas conversas do ônibus a preocupação quando se passa pelas favelas. Será que ainda existe no Rio alguém que não seja vizinho da beleza urbana das favelas? Será que comunidade e Zona Sul são polos extremos?
Segundo o Censo do IBGE, as favelas tiveram, entre 2000 e 2010, uma expansão populacional correspondente a 19% no Rio de Janeiro. A população da “não-favela” cresceu 5%. Dos 160 bairros da cidade, apenas 21 não contam com a presença de favelas.
Penso que há uma tênue distância geográfica e uma estrutura heterogênea social historicamente alimentada. A linha de ônibus 474, “classificada como inferno do Rio”, segundo matéria do portal R7, é um exemplo. O fluxo dos moradores do Jacaré, Jacarezinho e Manguinhos para o Jardim de Allah é ameaçado pela possibilidade de retirada de uma das duas linhas de ônibus (da mesma empresa) que liga as Zonas Norte e Sul.
A repugnância aos moradores destas áreas só faz aumentar a violência. De um lado, jovens desejosos de aproveitar a praia carioca reagem de forma negativa à exclusão, quebrando e / ou entrando pela porta de trás ou pelas janelas dos ônibus. Alguns chegam a furtar. De outro, as estratégias de enfrentamento lembram a presença do governo municipal para remediar a ausência de escolas, lazer, assistência social, transporte etc.
O verão, que chega em menos de duas semanas, relembra aos cariocas que o acesso à praia é restrito a poucos.