Dia desses recebi uma sugestão para abordar aqui na coluna assuntos “mais felizes”. Agradeci e refleti sobre o pedido. Analisando o contexto em que estamos vivendo, pandemia; isolamento social; distanciamento; quarentena numa escala mundial.

No noticiário as crises sempre estiveram presentes, crise sanitária, econômica, política, ética, elas se somam, convergem e se aprofundam sem perspectivas de melhora. Nas redes sociais, buscamos alívios momentâneos, nos conectando com pessoas que amamos para minimizar a saudade, assistimos à lives de nossos artistas favoritos, e nos alienamos um pouco das angústias.

Respiramos e vivemos esse tão falado “novo normal”.

Será que esse novo normal é sair de casa usando máscara e levando o álcool gel, lavar as compras, utilizar ainda mais a internet como ferramenta de trabalho, estudo, conexão?

Ainda não entendi o que é exatamente esse novo normal, porque nas periferias o que impera é o velho normal. Nas periferias a violência não entrou em quarentena. A polícia cumpre a ordem de atirar primeiro e perguntar depois. Criança é baleada e morta no caminho pra escola, criança é baleada e morta dentro de casa.

O projeto de genocídio da juventude preta não entrou em quarentena. Ele é executado todos os dias nas periferias brasileiras. A bala perdida é sempre encontrada no corpo preto. A estatística que afirma e comprova a morte de um jovem preto a cada 23 minutos no Brasil, não entrou em quarentena, ela tem endereço e cor.

Tá bem difícil falar de felicidade quando as incertezas diárias são sobre subsistência, sobre ter o mínimo que se necessita para sobreviver.