“Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai para o deboche, mas quando pega (Covid-19) num bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor”. A frase dita pelo presidente Jair Bolsonaro no evento nomeado de “Brasil vencendo a Covid” realizado ontem, 24, representa mais um dos constantes ataques à imprensa. No mesmo evento, Bolsonaro continuou a defender a hidroxiclororquina e clororquina. No mesmo evento Bolsonaro chorou ao falar da facada que levou. No mesmo evento nenhuma palavra de solidariedade e apoio às famílias dos 115 mil mortos pelo Covid-19 foi dita por Jair Bolsonaro.
Não é novidade que o governo federal tenta a todo custo se desvencilhar dos números que mostram a total falta de gestão e atuação no controle ao Covid-19. Vê-se isso no nome do evento, vê-se isso quando se foca no número de recuperados e “ignora” o número de novos casos e mortos, vê-se isso nos constantes ataques à imprensa que mostra dados, fatos e recomendações dos órgãos de saúde. Recomendações essas que o próprio Jair Bolsonaro recusa seguir tão veementemente.
Começou com “é só uma gripezinha”, seguiu com “não sou coveiro, tá ok?”, “e daí? quer que eu faça o que?”, “Minha vontade é encher sua boca com uma porrada, tá? Seu safado”, “Num bundão de vocês a chance de sobreviver é menor”… Após as declarações, Bolsonaro sempre fala em como a imprensa é injusta com ele e como sofre perseguição. É como uma receita de bolo, mas aqui para construir a imagem de “líder” que não consegue governar por culpa da imprensa e não por pura incapacidade.
Tal receita se mostra eficaz em seus fiéis seguidores e nos tantos robôs espalhados nas redes, que o defendem de tudo e de todos, que atacam a imprensa virtualmente e fisicamente e seguem cegados pelo ódio e medo da inexistente ameaça comunista. Nas redes sociais as declarações no evento, que deveria ser sobre o combate ao novo coronavírus, revoltaram muitos, seja pelo desrespeito a imprensa, seja pela falta de consideração às vítimas e seus familiares. Um deles disse:
“Praticamente culpou os mortos e doentes graves pela “fraqueza” de não resistirem a Covid. Poderia ter falado sobre a fraqueza familiar de não resistir à apropriação indevida de recursos públicos em rachadinhas”. Outro relembrou o ataque à imprensa no dia 23: “Tão grave quanto a ameaça de ontem feita ao repórter do O Globo é o menosprezo pelos jornalistas vítimas da Covid-19 chamados de bundões por Jair Bolsonaro que, aliás, até agora, não respondeu a razão do depósito de 89 mil na conta da esposa por Queiroz”.
Relembre aqui, outros ataques de Bolsonaro à imprensa.