Estive no ato contra o aumento das passagens de ônibus , dia 20 de junho: um mar de gente, carnaval em Junho, hare krishnas, povo perdido, gritos de “Brasil”, fotos, filmagens.
Faz 21 anos que vi algo dessa dimensão, no Fora Collor.
Mas algo mudou. Para melhor, para pior? Só o tempo e a luta de classe dirão, mas naquele dia, via a avenida Presidente Vargas lotada do começo ao fim. Façam as contas aqueles que sabem.
A maior manifestação que já vi minha vida. E continuava a chegar gente.
Mas a polícia do governador Sérgio Cabral parecia querer gastar todo seu arsenal de dispersão de manifestantes contra ela. Gritos de “devagar”, “sem violência”, “Brasil”…vindo de pessoas que nunca estiveram em uma passeata. Mas a polícia de Cabral “Assad” simplesmente perseguiu e dispersou um milhão de manifestantes, fazendo-os recuar da prefeitura do rio até a praça Mauá e a Lapa a base de bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, balas de borracha. Uma performance de dar inveja a muitos ditadores do oriente médio, pois a PM democratizou a violência que antes só aplicava seletivamente nas favelas.
Eram adolescentes; alguns pais trouxeram filhos no colo, carrinhos de bebê.
Jovens “coxinhas”, proletários. Idosos, com muletas, outros mais ativos. Todos com seus cartazes de cartolina. Sim, eu diria que essa poderia ser chamada de a “revolta da cartolina”.
Todos sentiam uma urgência de ser vistos, ouvidos, lidos.
As palavras de ordem dos partidos e movimentos estão lá.
Algo mudou. Algo que nem as bombas do Cabral calam. O amanhã? Será maior?
Posso estar errado, mas penso algumas coisas:
O que vi nos atos, que chamo de “Revolta da Cartolina”, foram pessoas com suas cartolinas, suas palavras de ordem, pedidos, frase irônicas de protestos, em cartolinas. Cartolina é simbólico por algumas razões: uma pessoa, uma cartolina, uma ideia. É um ato, por mais estranho que possa parecer social, é individualista. Acabou a passeata, a cartolina é jogada fora. Talvez a vontade de protestar também.
Nas passeatas antigas, era costume fazer faixas, algo demanda mais tempo, organização e experiência. Assim como uma faixa tem que ser levada por mais de uma pessoa, no mínimo, e pode ser usada outra vez. Já a cartolina carrega em si duas lógicas “modernas”: a do ” self-service”, isto é, a pessoa escolhe a seu bel prazer sobre o que quer protestar. E a do “just in time”, ou seja, só se usa quando se precisa, na hora exata. Passou dela, não há mais necessidade.
Uma classe média apertada entre impostos, corrupção, escândalos, que há muito tempo não tinha espaços ou meio de se manifestar em conjunto com os seus, está tendo essa possibilidade. A panela de pressão explodiu. As ruas foram tomadas por milhões que gritam em alto e bom som: basta a tudo que aí está! Ainda não sabem para onde ir, mas já deram o primeiro passo: disseram que não aceitam mais continuar onde estão!
O PT perdeu a direção do movimento de massas nas ruas após dez anos de governo. Embora ainda dirija a grande maioria dos sindicatos e movimentos sociais do país, tem contra si o movimento nas ruas. Está acuado porque não pode mais jogar em seu próprio terreno
Mas, como sabemos, a classe média ( os chamados “coxinhas”), são vacilantes e medrosos. Quem lhe oferecer mais, terá sua atenção, fugaz e instável. E dificilmente irão querer perder a estabilidade alcançada. Classe média disfarçada como “povo”, algo fluido, não faz mudança real. O que se chama por ai de classe média “coxinha” se cansa rapidamente.
Mas uma das coisas que mais me dá raiva e angústia é saber que um mauricinho, filhinho de papai, provocador infiltrado de direita, com camiseta branca e máscara de gás, quebra a coisa toda e nada vai acontecer com ele. Talvez atè vire “muso” dos atos, saindo em revista tipo toda teen, no superpop, etc. Mas dito “sem partido”, mas fascista de direita.
Já companheir@s que há anos atuam nos movimentos sociais, com suas bandeira, são linchados em praça pública, tendo que fugir de facas e porretes dos nazi fascistas, policiais infiltrados e “inocentes” úteis, aos gritos de “fora partido”.
Segundo o professor Rodrigo Dantas , professor de Filosofia da UnB, adireita fascista está organizada nas ruas, na mídia e nas redes sociais, controla o aparato militar-policial e se apoia na grande burguesia e no imperialismo. Na primeira semana dos protestos, em meio à Copa das Confederações, a burguesia e o imperialismo enfrentaram o primeiro grande levante popular após a chegada do PT ao poder e exibiram seu arsenal tático: repressão policial de massas; ataques paramilitares contra os militantes da esquerda organizada; incitação fascista do ódio aos partidos e a política; fazer de cada ato de rua uma praça de guerra para jogar a maioria da população contra o movimento, lançando mão de todos os meios para confundir, dividir e desorganizar o movimento.
Para o Rodrigo Dantas, tais métodos visam afastar a população dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais com métodos violentos e fascistas e propaganda anti-comunista nas redes sociais; “apolitizar” a espontaneidade das massas despolitizadas; colocar a luta contra a corrupção no centro da cena política e transformar as grandes manifestações de massa em espetáculos midiáticos de violência em estado puro.
Mussolini, Hitler, e seus filhotes mais recentes, assim como a grande mídia, Globo e etc, odeiam partidos. Mas só os de esquerda. Começam a agitar o impeachment de Dilma e prometem organizar uma marcha nacional a Brasília. Seu objetivo não é um golpe militar como o de 1964, mas criar uma atmosfera propícia ao fechamento do regime político, num quadro de crise mundial, por meio de um governo civil bonapartista eleito nas urnas.
Desta forma, creio que mais que nunca temos que sair para as ruas! Assim como os quase três milhões de favelados fazem todos os dias depois de uma ação tão violenta. Com eles aprender que o Medo não nos deve DESMOBILIZAR, ele deve ser o medidor do bom senso, do momento certo de recuar para voltar e avançar.
Nossa tarefa é canalizar as energias que estão aí, pois a LUTA É DE TODOS AQUELES que desejam e querem concretizar direitos para todos. A luta é daqueles que estão cansados de tomar pancada da polícia, daqueles que estão cansados de tomar pancada do ESTADO. Daqueles que desejam que seus filhos, netos, parentes e etc.. Tenham uma educação de qualidade que começa no jardim de infância e termina nas universidades. Dos trabalhadores que querem salários dignos e não salários de fome. Daqueles que querem hospital público de qualidade e não açougue de gente!
Dizem diz que sonhos são para fracos, derrotados. Nós dizemos, como Lênin, que se deve acreditar em sonhos. Mas que há que se lutar, para transformar esta dura realidade.