O dia 31 de março de 2005 ficará para sempre marcado na história da Baixada Fluminense. A data em questão se refere ao momento em que 4 policiais militares foram protagonistas da maior chacina da história do local. Na época, eles estavam à paisana quando saíram de um bar com a missão de tirar a vida do maior número de pessoas que encontrassem pela frente. O bairro da Posse em Nova Iguaçu e Queimados foram onde pessoas inocentes tiveram suas vidas terrivelmente arrancadas por esses agentes do Estado. Hoje, o episódio completa 14 anos com o total de 29 mortos, 4 condenações e 1 pergunta: Até quando?
Era um fim de tarde de quinta-feira, quase noite, desses que pede uma cerveja bem gelada. Os 4 PMs armados, bebiam tranquilamente em um bar. A informação que procede é que Carlos Carvalho, Marcos Siqueira, Júlio Cesar Amaral e José Augusto Felipe estariam inconformados com a fiscalização mais rigorosa em torno do batalhão que serviam e friamente decidiram se vingar. Dias antes do crime, oito PMs do mesmo batalhão foram flagrados por uma câmera deixando dois corpos abandonados nos fundos do batalhão em Caxias. Embora estivessem insatisfeitos com a vistoria que estava sendo realizada, foram os moradores da Baixada que pagaram o preço. Eles entraram no carro, um Gol prata, e estavam mais do que decididos a exterminar qualquer um que aparecesse em seus caminhos. E foi o que fizeram.
As primeiras vítimas foram feitas antes deles chegarem ao município em questão. Na Rodovia Presidente Dutra 2 pessoas, que poderiam facilmente ser eu, ou você leitor, foram baleadas e mortas. Não satisfeitos eles seguiram a diante, até chegarem ao município de Nova Iguaçu. Em um bar de esquina, agora no bairro da Posse, eles meteram bala e assassinaram 16 pessoas. Mais à frente, no município de Queimados, sem nenhum remorso eles continuaram atirando, fazendo mais 11 vítimas. Centenas e centenas de tiros foram disparados. Entre as vítimas estavam trabalhadores, crianças e adolescentes.
Apesar de ser o caso de maior impacto no histórico de violência no município e no Estado do Rio, não foi um caso isolado da extrema violência por policias. As injustiças com esse povo já se tornaram frequentes, e só quem convive, sabe.
No início de fevereiro desse ano nove corpos foram encontrados em Adrianópolis, na Estrada da Limeira e no bairro Carlos Sampaio. Em março, o Brasil se comoveu com a história do menino Kuan de apenas 12 anos, morto durante uma operação policial em Mesquita. Recentemente o vereador de 26 anos Wendel Coelho foi perseguido e morto por um carro em Mangaratiba. Crimes políticos também ocorrem em massa na região.
Segundo o Fórum Grita Baixada, houve 2.142 casos de morte violenta na Baixada Fluminense só em 2018, o equivalente a 56 mortos a cada 100 mil habitantes. Os maiores números de morte do município por intervenção policial são em Japeri e Queimados.
Os envolvidos na chacina absurdamente chegaram a ser absolvidos do crime. Três dos quatro policiais foram mortos enquanto testemunhavam ou aguardavam julgamento pelo caso. O único que continua vivo, o cabo Marcos Siqueira ficou sentenciado a 543 anos por tentativa de homicídio e formação de quadrilha. As famílias das vítimas convivem com a dor da perda até hoje.
É inaceitável que isso continue acontecendo. A Baixada é um local tão rico em cultura, em talentos, em história, mas que fica marcado devido a violência em excesso. Quantas crianças ainda terão suas vidas interrompidas? Quantos homens e mulheres terão que ser mortos para que se tenha um basta no extermínio de pessoas nessa região? Outro adjetivo que marca os municípios da Baixada, é a extrema pobreza.
As atitudes policiais só reforçam o estigma que a corporação carrega, sobre estar a serviço apenas dos interesses do Estado. A Baixada é o lugar onde mais fica mais nítido o reflexo da precarização dos serviços públicos. É lá que as pessoas mais carecem de trabalho, de educação, condições mínimas de saneamento e que muitas vezes encontram problemas ao tentaram atendimento em hospitais públicos, sempre caóticos. O fato é que o Estado nunca chega nesses espaços para incentivar o crescimento pessoal ou profissional dos habitantes. Pelo contrário, quando o Estado chega, é com tiro, porrada, bomba e um “salve-se quem puder”.