O centenário da Revolução Russa está sendo lembrado, debatido e celebrado em todo o mundo, e no Brasil não é diferente. Muitos foram os movimentos revolucionários importantes da humanidade, antes e depois de 1917. Mas a diferença fundamental é que, na revolução de outubro na Rússia, foi a primeira vez que um povo derrubou não só um governo, mas instituiu a partir dele um novo sistema, uma alternativa ao modelo capitalista e à exploração do homem pelo homem. Foram muitos os acertos e os erros deste processo, mas inegavelmente a revolução soviética é um marco para todos aqueles que defendem a transformação social e a superação do capitalismo.
Para além de um acontecimento histórico e político da maior importância, a Revolução Russa teve uma grande influência no desenvolvimento das artes: no teatro, no cinema, na arquitetura, nas artes plásticas, na música, e na literatura. Várias gerações de artistas foram e ainda são influenciados pelos ecos de outubro de 1917. Por aqui também.
Marcando a passagem do centenário da Revolução Russa de 1917, o Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói, apresenta ainda até o fim de outubro uma programação especial, com um panorama do legado deste momento histórico para o mundo e o Brasil e seus desdobramentos na cultura e na arte dos séculos XX e XXI. A mostra “Revoluções do Século XX / Utopias do Século XXI” está realizando debates, leituras dramatizadas, espetáculos teatrais, shows e exibições de filmes, oferecendo uma perspectiva destas influências diversas, reunindo artistas e intelectuais com obra engajada e compromisso social, a exemplo do próprio arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou o Teatro Popular. Boa parte da programação é aberta e gratuita, reafirmando o caráter popular e a vocação de formar plateias deste equipamento cultural.
O Teatro tem recebido plateias lotadas, reunindo várias gerações, e quem esteve por lá pôde presenciar alguns momentos históricos: Jorge Mautner e sua poética do Kaos levou a plateia do Teatro Popular às gargalhadas e às lágrimas (negras). Mais que um show, foi uma verdadeira aula-espetáculo, em que Mautner passeou pela história, dos chipanzés aos vampiros, de Marx a Jesus de Nazaré, de Walt Whitman a Nikolai Gógol, de Cartola a Clementina de Jesus. Acompanhado de Bem Gil, trouxe as pérolas do seu repertório até chegar à apoteose final com “Maracatu Atômico”. Paulo Betti emocionou o público na apresentação gratuita de seu espetáculo Autobiografia Autorizada, um monólogo em que o ator conta passagens de sua história de vida, relacionada a acontecimentos sociais e políticos do país.
O embaixador e ex-chanceler Celso Amorim foi o convidado principal do debate “O Brasil no mundo hoje: crises, revoluções e utopias”, realizado nesta segunda, 23. Amorim destacou a honra de estar em uma obra de Niemeyer discutindo os temas propostos, e acrescentou: “Sem acreditar na utopia de construir um mundo melhor, com diálogos honestos de igual pra igual, o mundo não vai melhorar. Nós precisamos trabalhar para isso”. O debate teve como eixo principal um panorama da inserção internacional do Brasil no mundo e os desafios geopolíticos em um contexto atual de retrocessos, crise e instabilidade mundial.
Nesta sexta, 27, às 20h, acontece ainda a exibição gratuita e ao ar livre do longa metragem Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirzman, com Fernanda Montenegro e Giafrancesco Guarnieri. Encerrando a programação, teremos no dia 01 de novembro uma apresentação única e gratuita do espetáculo Os 10 dias que abalaram o mundo, que conta a história da revolução soviética, com direção de Luiz Fernando Lobo.