Estou em 1964.
O país pede espaço.
“Comunismo é de fato nosso maior inimigo.”
Isso eu li ao abrir o jornal.
Declamo meus poemas na praça.
Música para os ouvidos sozinhos.
A viatura me aborda e me vejo perdido.
“Em nome da lei e dos bons costumes…”
Minha primeira censura.
Um incentivo à minha luta.
Nunca mais seremos como outrora.
Às vezes a intuição é mais eloquente que o próprio grito.
Algum dia, espero que os acontecimentos por mim descritos, não sejam enaltecidos por nenhum mito.
Metade do que relato será sucumbido.
Algumas linhas serão esquecidas.
Eu temo por minha vida.
Mas a ditadura não será ouvida.
Muitos somem, desaparecem e eu me esquivo.
Obras gigantescas, parabéns.
Afinal, o bolo precisa crescer pra que se repartam os bens.
Escrevo esta poesia no fundo de um armário, enquanto aguardo a polícia.
A continência é tão linda na mídia.
A porta bate forte.
Se conseguir me ler,
obrigado e boa sorte.
Israel Sant’ Anna Esteves