O ano de 2017 foi a continuidade dos retrocessos sociais iniciados em 2016, quando o conservadorismo se manifesta de forma aberta e assustadora. O golpe dado em 2016, mais uma vez, teve a participação popular, assim como foi em 1964, quando um número significativo de brasileiros e brasileiras apoiaram esse período vergonhoso e nefasto de nossa história.
Octavio Ianni, em seu livro A ditadura do grande capital (1981), nos alerta que algumas características são permanentes na formação social e histórica do Brasil: o desenvolvimento nacional dependente do capitalismo internacional, a centralidade do Poder Executivo em detrimento dos outros poderes e a permanente exclusão das massas nas decisões políticas. Em 2016, me parece que essas características ficaram evidentes, porém, com algumas marcas atuais, como a participação do Judiciário e Legislativo em apoio ao golpe.
Esse mesmo pensador, nos diz que o Estado sempre participou ativamente do planejamento econômico para assegurar os interesses privados, ou seja, atender as demandas das empresas nacionais ou internacionais. As mudanças alavancadas pelo governo golpista de Michel Temer têm sido para assegurar os interesses das grandes corporações. À medida que atende os interesses das grandes corporações ao transferir recursos públicos para o setor privado, atinge diretamente as trabalhadoras e os trabalhadores, pois diminui o investimento, como temos visto, na saúde, na educação, na Previdência, fazendo aumentar ainda mais a diferença entre ricos e pobres no país.
Esse governo que hoje tem algo entorno de 3% da aprovação popular tem se dedicado a desmontar todo o sistema público de proteção social. No Brasil, apenas 15% da população não se encontra entre os pobres, miseráveis e extremamente miseráveis. Por que os 85% restantes não se levantam em mobilizações para protestar e derrubar esse governo que atende os interesses de uma minoria privilegiada?
Uma questão me parece evidente: assim como as classes dominantes são conservadoras, as classes trabalhadoras, por herança de um passado cheio de violência, morte e ditaduras, também reproduz o conservadorismo. Partilhamos do entendimento de que os governos do Partido dos Trabalharadores não fizeram grandes e profundas alterações no cenário para diminuir as desigualdades sociais, mas, sim, atuou em setores estratégicos que deram legitimidade à população mais carente. Apesar disso, parte dessa mesma população se levantou contra o próprio governo do PT, o que somou água no moinho para derrubar a então presidente Dilma.
Sob as palavras de ordem “fim da corrupção”, “por um Brasil mais justo”, “mais investimentos no social” e tantas mais, Dilma caiu, e, hoje, nenhuma dessas bandeiras de luta foram superadas. Ao contrário, assistimos o acentuado aprofundamento da corrupção e cortes nas áreas sociais. Cadê a população novamente na rua? Como um governo com 3% de aprovação ainda permanece no poder?
Parece que o grande problema não era esse e, sim, tirar do imaginário da população brasileira a história de governos de trabalhadores e da primeira presidenta do país. Contudo, temos que fazer um balanço, ao menos, dos últimos cinco anos para compreender como tenderá a história e para que 2018 não seja a continuidade desse trágico momento da realidade brasileira. Nós, a classe trabalhadora, precisamos deixar de aplaudir ou assistir atônitos a atuação de quem tem por projeto nos ver sempre na condição de pobres oprimidos, presos ou mortos.
Que 2018 comece com profundas mudanças nas águas agitadas da política brasileira.