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Dia 26 de julho de 1990: 11 moradores da Favela de Acari foram passar uns dias num sítio em Magé. O que deviam ser dias de diversão e lazer acabaram em horror. Investigações apontam que eles acabaram sequestrados pelo grupo de extermínio Cavalos Corredores, formado por policiais militares. O episódio marcou um dos mais tristes capítulos na história das favelas do Rio. A Chacina de Acari hoje completa 26 anos sem que a justiça tenha sido feita.

Os Cavalos Corredores eram assim chamados porque entravam nas favelas fazendo muito barulho, como se fossem uma tropa de cavalaria, espalhando terror pelas ruelas. Invadiam casas, extorquiam e agrediam pessoas, estupravam mulheres, matavam e ainda desviavam armas apreendidas do tráfico para serem utilizadas não só pelos integrantes, mas também por outros grupos de extermínio formados por PMs. Os policiais que formavam o grupo de extermínio faziam parte do 9°BPM, então conhecido como “um batalhão de bandidos”, onde tudo o que acontecia tinha o aval do comandante. Anos depois, este deu origem também ao 41°BPM, que é tido oficialmente como um dos batalhões que mais registra mortes em confrontos em todo o Rio de Janeiro.

O grupo de extermínio acusado pela Chacina de Acari seria chefiado pelo hoje tenente-coronel reformado e ex-deputado estadual Emir Larangeira. Larangeira é acusado de também ter planejado em seu gabinete na Alerj a morte de Edmea da Silva Euzébio, uma das líderes do grupo “Mães de Acari”. Na época, Edmea estava empenhada na luta por justiça no caso do assassinato covarde de seus filhos, ajudando na investigação, e relatou estar recebendo ameaças. O ex-deputado federal foi inocentado da acusação de ser o líder do grupo de extermínio, mas ainda aguarda julgamento para o caso de Edmea.

Os corpos dos jovens assassinados, com idades entre 13 e 32 anos, até hoje não foram encontrados. Suas famílias permanecem sem respostas. Os responsáveis jamais foram punidos pela justiça e o inquérito foi encerrado em 2010 por “falta de provas”. O caso da Chacina de Acari, entre outros inúmeros casos, mostra a evidente omissão do Estado brasileiro diante de tais acontecimentos. Nenhum governo foi capaz de dar uma resposta sobre esses crimes, e essa falta de resposta auxilia na continuidade da violência que se perpetua contra esses jovens, e outros jovens, e suas famílias.

Durante toda a investigação, nota-se um processo discriminatório em relação ao caso, pelo fato das vítimas serem negras e negros, pobres e de favela, em maioria. Várias evidências e provas foram descartadas sem motivos aparentes. Denúncias de covas clandestinas, para onde teriam sido levados os corpos dos jovens, não foram periciadas. A suspeita de que os policiais responsáveis pelo desaparecimento forçado desses jovens os extorquiu algumas semanas antes do crime também nunca foi investigada. O mesmo procedimento segue ocorrendo no sistema prisional e com os agentes de segurança pública que, com aval do estado, formam grupos de extermínio e milícias e se unem indiretamente à omissão do Estado diante do genocídio da população negra e da criminalização da pobreza.

26 anos se passaram, governos mudaram, os crimes não foram solucionados e continuam se repetindo. Moradores da Favela de Acari ainda sofrem nas mãos dos agentes do Estado, incluindo militantes locais de direitos humanos que se tornaram alvo dos algozes, que são outros, porém não menos violentos e ainda da mesma casta.

A revolução virá da favela e Acari está presente na luta! Jamais esqueceremos! #NãoPassarão

 

Lista de desaparecidos da Chacina de Acari:
1. Rosana Souza Santos, 17 anos
2. Cristiane Souza Leite, 17 anos
3. Luiz Henrique da Silva Eusébio, 16 anos
4. Hudson de Oliveira Silva, 16 anos
5. Edson Souza Costa, 16 anos
6. Antônio Carlos da Silva, 17 anos
7. Viviane Rocha da Silva, 13 anos
8. Wallace Oliveira do Nascimento, 17 anos
9. Hédio Oliveira do Nascimento, 30 anos
10. Moisés Santos Cruz, 26 anos
11. Luiz Carlos Vasconcelos de Deus, 32 anos