Um ponto de encontro entre Mestres de Cerimônias (Mc’s), malabaristas, poetas, cineastas e toda sorte de artistas se realizava para “Somar no Groove”.  Um dos parceiros da nova geração do Hip-hop carioca e também da tradicional Batalha do Real usa esse convite para convocar seus pares. Começou no Centro Interativo de Circo (CIC) da Fundição Progresso e, desse ponto de encontro, uma organização do movimento Hip-Hop entrou em curso e desde que as ‘batalhas de sangue’ deixaram de ser a principal atração, novas experimentações de improviso, mistura com grafite entre outras possibilidades de arte, vem sendo construída.

Desde que esse ponto de encontro deixou de ter seu “centro” no bairro da Lapa, ao ser sugerido pelo Mc Rico fazer um roda de rima (quando o CIC pegou fogo) contou  emocionado no microfone, o Mc Dropê que hoje em dia “são mais de 50 rodas de rima espalhadas pelo estado do Rio de Janeiro”, um dado, então, de respeito que foi comemorado numa roda de rima na praia de Botafogo, ao lado do Mourisco, e claro, aberto ao público. Essa comemoração se apresenta no estilo da cultura do Rap, onde meninos e meninas se misturam, se acrescentam a esse público, homens e mulheres também complementam a juventude, transeuntes, moradores do bairro e todos que prestigiam esse movimento, do Leme ao pontal. Literalmente. O Mc Sombra veio do Recreio , de onde é residente, da roda de rima Tim Maia pra curtir o evento do terceiro aniversário  do Circuito Carioca de Ritmo e Poesia.

O Circuito Carioca de Ritmo e Poesia se mantém fiel à cultura de rua onde o público é que julga a qualidade musical e não críticos especializados. De especial se mantém também a essência do movimento que tradicionalmente é de resistência aos problemas sociais dos quais seus criadores, isso é, seus artistas são seus próprios porta vozes. Com essa postura, se percebeu desde o início que o Rap da cena carioca, sempre undergroud e fora do calendário social da cidade, se apresentou desde o começo numa reformulação e estrutura de diálogo com a própria cidade. As rodas se fazem nas praças e em pontos estratégicos, sempre aberto à quem quiser se aproximar.

O evento começou então ao som do DJ Brown e depois, a nível de oficialização, a banda da Guarda Municipal apresenta seu repertório musical. Um dado novo: a presença de uma guarda militarizada não foi através da força e sim da arte, somando no “Groove”, como diria o rapper B Negão.  A produtora Camilla Cattoi, 35 anos,  contou “deixei de vir porque estava casada. Mas gosto muito dessa vibe”. As mulheres também vêm construindo muito bem “a nova cara” do rap onde se assumem, como Mc’s, e tem total identidade  e representatividade para diversificar o movimento.

Na mesma linha de marginalização que passou o samba, o funk também foi reconhecido com manifestação cultural e, ontem, dia 03 de dezembro de 2013 sob o Programa de Desenvolvimento Cultural Carioca de Ritmo e Poesia , popularmente conhecido como “Pacto do Rap”, foi a vez do Rap ser reconhecido oficialmente através do prefeito Eduardo Paes.

Essa realização foi possível em função do Circuito Carioca de Ritmo e Poesia (CCRP) e do Instituto Eixo Rio, que assim como os organizadores do ponto de encontro do rap na Lapa, os Mc’s Dropê, Rico, Hemp, entre outros, é também gerido por quem vivencia a realidade do movimento, uma vez que o presidente do Instituto Eixo Rio, Marcello Dughettu, vem também dessa nova geração de artistas que contesta que viver de arte e cultura, seja “coisa de playboy”. Marcelo idealiza uma articulação, numa sintonia com o poder público, iniciativa privada e demais formas de geração de apoio e recurso de modo que a cidade tenha na rua, seu palco de formação de público, crescimento e movimentação da economia, ampliando a cultura como ferramenta de desenvolvimento estratégico, além do entretenimento.  Marcelo destaca “as novas gerações já não se limitam à questão racial e a repressão, seus temas são amplos, abordam o amor, a amizade, a parceria e todos os outros motivos que um cenário como a cidade do Rio de Janeiro pode servir como inspiração”. Certo também, que o racismo não foi superado, mas o discurso que vai além desses temas aponta para uma direção de desconstrução do estereótipo que se faz presente no pensamento da sociedade.

Marcelo se demonstra confiante do papel que vem exercendo e reclama da resistência “da galera” ao trazer o foco do que acontece no cenário “da pista” para dentro da política municipal da cidade. Embora essa dificuldade se apresente, o presidente do Instituto Eixo Rio, propõe um ponto de vista sob “novas lentes” e enxergar um caminho diferente de produção cultural sem os ranços do aparelhamento que comumente tentam caracterizar qualquer aproximação com qualquer esfera governamental.

O evento regularmente realizado, começou às 18:00hs e terminou quando chegou o horário das 22:00hs, respeitando a lei do silêncio. O som foi desligado da tomada, porém, a música e a roda de rima continuaram embaladas pela garganta da galera madrugada adentro. Assim começou um novo dia para o Hip-Hop.