O Brasil parece ter encontrado o caminho para isolar o vírus bolsonarus imbecilum: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta na televisão dando explicações sobre o coronavírus, ao vivo e em cores para todo o país nos canais noticiosos por assinatura e na TV Brasil, da EBC.
Sem máscara e vestindo colete do SUS, deu informações preciosas no momento em que o país está mergulhado num mar de ignorância alimentada por todo tipo de notícias falsas e duvidosas nas redes sociais, em linguagem simples e clara que qualquer cidadão entende.
Sintomaticamente (com o perdão do advérbio), a entrevista do ministro de uma hora de duração a partir das cinco da tarde do domingo, 22, não foi transmitida pelas principais emissoras de tevê aberta: Globo, Record, Band, SBT e nem mesmo a Cultura de São Paulo, o estado com maior número de casos positivados de contágio. Todas mantiveram o normal das tardes domingueiras, programas de variedades alienados e vazios.
Como previsto nos prognósticos de economistas do Banco Central apresentados segunda-feira, 16, ao ministro Paulo Guedes, os casos no Brasil avançam com velocidade impressionante e poderão alcançar 80% da população. Para se ter uma ideia, a Itália enfrenta hoje o contágio de 60%, num cenário de país-fantasma, ruas vazias, tudo fechado e muita desolação.
As previsões do Banco Central reforçam expectativas de rápida expansão do vírus pelo contágio comunitário nas zonas periféricas e favelas das grandes cidades, o que já se constata através da mudança do protocolo do Ministério da Saúde. Desde a quinta-feira, 19, a determinação é que todo quadro de gripe seja encarado no SUS como contágio, com atestado médico de isolamento para o paciente e seus familiares.
Todas as providências, mais a iniciativa ministerial de ir à televisão esclarecer a população, inclusive respondendo questões chegadas pelas redes e e-mails de maneira objetiva e franca, bate de frente com o esforço do presidente Jair Bolsonaro de desacreditar a letalidade do vírus em declarações do tipo “eu sobrevivi a uma facada, não vou morrer de uma gripezinha” e chamar de “histeria” a preocupação em torno da pandemia.
O desserviço de Bolsonaro não teria maior impacto sobre a opinião pública se ele não ocupasse a cadeira no Palácio do Planalto, mas como influencia parte da opinião pública vemos em vídeo jovens numa cidade baiana gritando que vão espalhar o coronavírus por onde puderem. A ignorância presidencial se alastra na exata proporção da cegueira de seu eleitorado.
A iniciativa do ministro Mandetta, neste cenário, é de extrema oportunidade. Suas palavras contra fake news, as explicações sobre o risco de contágio e as precauções imprescindíveis ao sucesso da guerra contra o coronavírus na entrevista deste domingo foram um farol de lucidez na escuridão bolsonara do país.
Tenho quase certeza de que o presidente não gostou nada do que viu na telinha (se é que mudou do Faustão), e vai apreciar menos ainda se Mandetta cumprir a promessa de repetir a dose diariamente até a situação normalizar.
Ao acompanhar parte da intervenção ministerial pela CNN Brasil (um antídoto à GloboNews, até agora), adivinhei Bolsonaro e Moro discutindo o que fazer para reduzir a pó de traque o prestígio do ministro da Saúde, que vem conferindo ao cavaleiro da triste figura do Planalto a dimensão mais próxima da nulidade que ele de fato significa neste caso.