Todos os dias chegam aos cemitérios públicos paulistanos entre 30 e 40 óbitos suspeitos de Covid19, enterrados sem o resultado do exame no Instituto Adolfo Lutz, cujo prazo de entrega tem sido de até 20 dias. Para quem acha excessiva a quantidade de mortes, a prefeitura adianta que a cidade enterra em média 250 pessoas por dia somente nos cemitérios públicos.
Os números que denunciam a subnotificação de óbitos na pandemia, aliás, são apenas da rede pública de saúde. Lá, material para exame é encaminhado exclusivamente para o Adolfo Lutz, enquanto hospitais particulares têm seus laboratórios, ou conveniados.
A rede hospitalar privada Sancta Maggiore, por exemplo, respondeu por 79 mortes das 121 ocorridas até terça-feira, 31, o que reforça a sensação do coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia e ex-presidente da Associação Panamericana de Infectologia Sérgio Cimerman:
“A minha impressão é de que as mortes que estão ocorrendo no sistema público de saúde ainda não estão entrando na contabilidade oficial por causa da sobrecarga do Adolfo Lutz. O que estamos vendo nesse momento nesses números de óbitos é uma realidade de duas ou três semanas atrás”, Cimerman acrescentou, temendo que em algumas semanas os números sejam muito maiores e as pessoas deixem de acreditar no isolamento social como meio de evitar a pandemia.
Os cemitérios públicos, entre os quais o de Vila Formosa, maior da América Latina, têm sepultado muitos corpos de suspeitos de infecção, mantidos em sigilo pela prefeitura contra a vontade do Sindicato dos Servidores Públicos municipais.
Funcionários admitem o aumento diário do número desses sepultamentos em que o caixão sai do carro fúnebre diretamente para a cova. Quando há velório, como em Vila Formosa, são permitidas no máximo 10 pessoas em cada capela, por no máximo uma hora. Estima-se que mais de 200 mortos com suspeita de Covid19 tenham sido enterrados desde o início da pandemia.