As obras do hospital de campanha de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, instalado no Clube Mauá, tiveram um novo capítulo essa semana. Previsto para ser inaugurado no último domingo, 17, sua abertura foi adiada para a próxima quinta-feira, 21. A instalação do hospital vem enfrentando uma série de problemas desde que foi anunciada, envolvendo questões orçamentárias, gestacionais e geográficas.
Em nota, o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) relatou que o atraso na entrega ocorreu devido a problemas de liberação de acesso à área, já que teve que ser pavimentada, obra não prevista no contrato. Além disso, o instituto alega que a criminalidade é outro fator para o atraso das obras.
Segundo documento entregue à Secretaria Estadual de Saúde do Rio, trocas de tiro em regiões próximas à unidade forçaram pessoas envolvidas na montagem e gestão a paralisarem os trabalhos para buscar proteção abaixadas por mais de uma hora, entre elas o superintendente do instituto, Hélcio Watanabe. O Iabas destaca que esses episódios afastaram médicos e prestadores de serviços, alertando para a necessidade de reforço policial.
A localização e as características da unidade
O Clube Mauá de São Gonçalo localiza-se no bairro Estrela do Norte, próximo ao Centro do município. O hospital está sendo construído no campo de futebol do Clube. A região que fica a cerca de 1 km dos Morros Menino de Deus e Chumbada, pode ser considerada uma área que abriga diferentes classes sociais e desigualmente distribuídas.
Desde que foi anunciada a escolha do campo de futebol para a montagem do hospital de campanha, moradores, por meio de suas redes sociais, denunciam que o local não é o mais apropriado para receber o hospital, pois é conhecido por alagamentos em dias chuvosos.
São Gonçalo é um dos municípios mais populosos do Rio e o quinto com maiores casos de Covid-19. Com a promessa de construção da unidade, seria possível abrigar leitos e UTIs para pacientes transferidos e positivados.
Investigações de Fraude na Saúde
A unidade de pronto atendimento de São Gonçalo está sendo erguida, exclusivamente, pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, após as prefeituras de Niterói e Maricá doarem, cada uma, R$ 45 milhões. A nova unidades vai evitar que essa e outras cidades vizinhas sofram superlotação em seus hospitais.
Mas o que vem chamando a atenção é que a unidade de São Gonçalo já custa o dobro das unidades similares montadas na cidade do Rio. Na coluna de Gilson Monteiro, ele destaca que o hospital de campanha do Leblon, bairro da Zona Sul da capital, por exemplo, conta com mais UTIs que a de São Gonçalo, apesar de custar mais barato. Enquanto aquele hospital de campanha carioca teve um custo de R$ 45 milhões, com duzentos leitos e metade destinados à UTI, o de são Gonçalo custou R$ 90 milhões e conta também com duzentos leitos, mas com apenas quarenta de UTI.
No último sábado dia 16, funcionários do hospital de campanha do Maracanã denunciaram que encarregados do Iabas retiraram respiradores da unidade para levar ao hospital de São Gonçalo, inclusive equipamentos que já estavam em uso.
O Ministério Público Estadual iniciou investigações para analisar se os poderes executivo e legislativo vêm mantendo transparência legal relativa às contratações emergenciais. O Ministério investiga, ainda, a contratação da organização social Iabas no valor de R$ 835 milhões para construir e administrar 1.400 leitos de hospitais de campanha. A investigação de superfaturamento de recursos da saúde vem sendo chamada de “Lava Vírus”.
Além de São Gonçalo, Leblon e Maracanã, outras localidades já abrigam, ou estão previstas para receber, hospitais de campanhas estaduais: Nova Friburgo, Casimiro de Abreu, Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Campos dos Goytacazes.