Agosto mal começou e já temos um aperto no peito, um desgosto, um gosto amargo de sangue na boca correndo pelas mãos. Sangue de inocentes, sangue de pessoas que não queriam morrer, que tinham vidas inteiras pela frente, sonhos que foram interrompidos, famílias destroçadas, mães que tiveram seus corações arrancados dos peitos sem anestesia.
Te convido a imaginar alguém que você ama muito te dando um último beijo, por estar indo resolver algo na rua, aí você dá um abraço bem forte nessa pessoa, e, logo em seguida, ouve um barulho que não sabe da onde vem, em seguida, toca o telefone e a notícia é que seu filho, esposo, mãe, irmão, pai ou amigo acabou de morrer. Sim, aquela pessoa não está mais ali. Não há mais o que fazer. Ninguém te ouve, ninguém pode tirar esse vazio. Resta apenas o sentimento de saudade e revolta. É angustiante, né? É o que acontece todos os dias e, nas últimas horas, aconteceu durante 80 horas seguidas no Rio de Janeiro. Cinco jovens foram mortos e, enquanto eu escrevo esse texto, pode ter morrido o 6º.
Todos os jovens mortos eram negros, jovens e moradores de favelas. NENHUM tinha envolvimento com o crime ou com algo ilícito, mas segundo as versões da polícia, todos foram atingidos por “balas perdidas.”
Bala perdida… “engraçado” como essas balas só se perdem nas favelas e só se encontram em corpos negros. Ninguém dentro da favela está seguro, você acorda e dorme ao som de tiros. Como viver dessa forma? Como sair de casa para estudar, trabalhar e viver se não sabe se vai voltar? Como ficar em casa se a bala atravessa paredes e janelas? A quem procurar? Se aqueles que deveriam nos proteger e nos dar condições básicas de sobrevivência são os mesmos que querem nos exterminar?
O que fizemos para merecer isso? Até quando? Quem será o próximo? A vida é um sopro, e para o Estado, ela não vale nada. Enquanto fôlego nos restar, resistiremos.