Documentário em homenagem à Maria Felipa é produzido em Salvador

Entrada principal da Rota Afro da Feira. Crédito: Ubiraci Santos/ANF

Feirantes, adeptos e praticantes de religiões de matriz africana, ativistas sociais e dos direitos humanos, microempreendedores e gestores do turismo participaram na última sexta-feira, 1, da filmagem do documentário “Rota Afro da Feira de São Joaquim, feito de cuscuz de cansanção, em homenagem à Maria Felipa, heroína negra” da Independência do Brasil na Bahia, ocorrido em 2 de julho de 1823.

Neste sentido, pesquisadores contam que folhas de cansanção foram utilizadas por mulheres lideradas pela marisqueira Maria Felipa de Oliveira, como uma das estratégias para destruir “embarcações portuguesas, ancoradas na Ilha de Itaparica”, por insistirem em permanecer em território baiano escravizando povos originários (indígenas), e negros (as) oriundos (as) do continente africano, enquanto o cuscuz é uma preparação nordestina trazido da África, que em 2020 foi atribuído pelo Comitê de Patrimônio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como “Patrimônio Imaterial da Humanidade”.

A iniciativa em produzir o documentário busca potencializar o turismo afro e empreendedorismo baiano, relacionando fatos históricos, étnico e raciais, memórias, tradições, aspectos culturais, saberes e práticas gastronômicas a partir de rotas específicas como a Rota Afro da Feira de São Joaquim que iniciou com a compra de insumos para preparação do cuscuz de cansanção, em seguida, saudação ao Senhor do Bonfim, momento griot, Samba do Cuscuz e degustação ajeum desta iguaria feita pela guardiã Tânia Tigresa, na Casa de Oxum, Monte Serrat, em Salvador.

“Convivo há 20 anos aqui na Feira de São Joaquim, vendo condimentos como corante, cominho, cravo, canela, folha de louro e azeite de dendê”. Acho Tânia Tigresa “uma pessoa popular e alegre”, revelou dona Rita Francisca, 75, feirante.

“Participar da Rota Afro de São Joaquim foi de total fundamento, diante das questões históricas do lugar e da importância que é aprender vivenciando. Não parando por aí, fomos ao Terreiro da Mãe Pequena Tânia Tigresa, guardiã do Roteiro e também, uma das que guarda memória de nossa grande heroína Maria Felipa, que viverei numa série da TV Cultura em breve”, anunciou uma das representantes do Grupo As Ganhadeiras de Itapuã e do Coletivo Samba das Mulheres de Itapuã, Verônica Múcuna, intérprete de Maria Felipa.

Segundo a artista, jornalista e proprietária da @tveuropa40, Marisol Gomez, “a Feira de São Joaquim é à base da agricultura familiar, produtos que são criados e produzidos como verduras, legumes e também, os de origens dos nossos antepassados, então, a Rota Afro da Feira de São Joaquim vem para engrandecer essa classe de pessoas da agricultura e ajudar também a ter fundos e dinheiro. Ainda não há empresas grandes que contribuam neste aspecto, seria legal que a Feira fosse padronizada para ter uma estrutura melhorada”.

Verônica Múcuna, intérprete de Maria Felipa. Crédito: Ubiraci Santos/ANF

Marisol finaliza, “o terreiro dentro da Rota Afro, ele é um segmento da mãe da Tânia Tigresa, que desenvolve ações sociais para pessoas carentes, que não têm condições, sem comida, sem vestimenta, desta forma, este projeto veio para puder conscientizar mais as pessoas e serve também para atrair turistas e até nossos conterrâneos para conhecer a nossa cultura e religião de matriz africana”.

“Eu entrei `na rota´Afro ao sair da Igreja do Bonfim, como boa baiana, costumo ir na primeira sexta-feira do mês, em especial no mês de julho, mês do meu aniversário. Encontrei Marisol, Eduardo e Yuri nas escadarias da Igreja conversando e tentando convencer algumas turistas a conhecerem o terreiro e conhecer o cuscuz com folhas de cansanção em homenagem a Maria Felipa. E lá conheci muita gente comprometida com as nossas origens: Daniel, Verônica, Edson, Tânia e o senhor”, disse a moradora do bairro de São Marcos, em Salvador, profa. Rita Moreira, 53, graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia.

Na concepção do presidente da Rede Mundial de Étnico Empreendedorismo – Rede Emunde, Edson Costa, “acredito que Tânia Tigresa reforça seu papel de guardiã na Rede Emunde, Mãe Pequena na Casa de Oxum, gastróloga, cantora e compositora do Samba do Cuscuz, e este documentário imersão na Rota Afro da Feira de São Joaquim. Quanto à atriz intérprete de Maria Felipa, ativista da cultura e do Samba de Roda, acho que chega para somar como protagonista preta com um conteúdo maravilhoso, que encontra um ambiente fértil na Rede Emunde, para se inserir no afroturismo, afrodestinos, afronegócios e afroempreendedorismo”.

Edson ainda comunicou sobre o processo de regulamentação do Projeto de Lei do Turismo Étnico Afro. “Existe como Ação Pública há 38 anos, mas agora como PL do Turismo Étnico Afro, que tramita na Assembleia Legislativa, a ser inserido aos Orçamentos Públicos do Estado da Bahia e municípios”, caso seja regulamentado pelo legislativo baiano.

Para o analista técnico da Unidade Gestão Estratégica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae-Ba, e mestrando do curso de Desenvolvimento e Gestão Social, “Pesquisa do Afroturismo na Península Itapagipana”, Anderson Teixeira, 32, “no que tange ao Turismo Étnico-Afro/Afroturismo, na Bahia, o Sebrae apoia ações previstas pela Rede Emunde para trabalhar com esse importante segmento do Turismo Cultural que representa a identidade da cultura baiana. O Sebrae também tem um portfólio diverso de capacitações e treinamentos voltados para o fortalecimento do empreendedorismo negro, na Bahia”.

Cuscuz preparado com folhas de cansanção. Crédito: Ubiraci Santos/ANF

Anderson conclui argumentando que “o Sebrae-Ba atua no fortalecimento dos Pequenos Negócios. O turismo é um dos setores econômicos de atuação do Sebrae, no qual conta com 90% das empresas que atuam no setor são compostas por micro e pequenas empresas”.

Durante a caminhada na Feira de São Joaquim, o grupo conheceu o “Cantinho da Dadá, localizado na Rua das Flores, onde promove há 28 anos o samba relacionado à religião de matriz africana, Festa do Marujo, que acontece no primeiro domingo do mês de setembro”, informou a feirante, Chinda, 40, uma das organizadoras do evento.

De acordo com a Guardiã da Rota Afro de São Joaquim e Rota Afro Náutica da Cidade Baixa, Mãe Pequena de Oxum, Tânia Regina Assis Tigresa, ” a Rota Afro de São Joaquim é uma atividade do afroturismo, que valoriza os afroempreededores e afroempreededoras da Feira de São Joaquim, que por conta da nossa presença familiar, dos povos tradicionais de matriz africana, frequento há 30 anos, com minha Mãe Consanguínea e Matriarca da Casa de Oxum”

A ação foi realizada pela Rede Emunde e Casa de Oxum, com apoio do Sebrae-Ba, universidades e microempreendedores.

Assista um trecho da filmagem do documentário.

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