Artigo: El Carlitos Blanquito

Crédito: Reprodução

O cantor e compositor baiano, Carlinhos Brown viralizou nos últimos dias, com um vídeo em um show realizado em dezembro de 2021, onde Brown no alto do seu talento e da sua arrogância interrompeu uma manifestação contra o presidente Bolsonaro, dizendo: “Eu não me meto nisso! Eu sou o Brasil que deu certo!” E, finalizou com uma frase tão incoerente quanto o próprio, que cultura não era política…

Por onde, posso começar? Bom… ao escutar essas frases com tanta genialidade do mundo invertido contida nelas, penso que Carlinhos Brown supõe ser ele o único negro talentoso no Brasil inteiro. Por certo, acha que só fora pelo talento dele, que o fez chegar até o estrelado! Decididamente não foi! Foram as oportunidades, que outros artistas deram-lhe e sorte. Será que o mesmo não pensa quantos Browns igualmente talentosos até mais do que ele não foram mortos na calada da noite pela polícia, ou não foi achado diariamente por uma bala perdida ou assassinado de forma cruel pelo narcotráfico? Esse que apenas mói os peões, ou seja, os que estão na frente, enquanto, os barões do tráfico transvestem-se de cidadãos de bem do alto escalão da sociedade.

Não compreendi muito essa fala do cantor: “Eu não me meto nisso!”. Nisso o quê? Política? Mais de 600 mil mortos por Covid-19 por omissão e negligência do Governo Bolsonaro? No descaso com as artes, a cultura, a educação e a saúde? Claro, Brown, você não precisa de nenhum desses serviços na sua modalidade pública! Isso me faz lembrar uma frase poderosa e profética de Paulo Freire, quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor. Também, remete o “escravo” de Bentinho (de Machado de Assis), pagando com juros em outro todas as chibatadas que recebera na vida. Sim, Carlinhos foi o opressor, quando interrompeu uma manifestação espontânea do povo, ainda mais no momento em que tentou o calar, quando tocou o tambor em cima da fala das pessoas.

Aqui na Bahia, temos uma lenda urbana por causa de alguns casos anedóticos, que Carlinhos Brown seria uma pessoa metida e arrogante. Esse fato dá indício que, talvez, eles não sejam tão anedóticos assim! Tem um traço forte na realidade.

Ele disse que era o Brasil, que tinha dado certo. Mas, de que Brasil, o cantor baiano está se referindo? O Brasil da fome? Embora, o cantor não soubesse ainda na época dos 33 milhões de brasileiros famintos. Acredito piamente, que já tinha conhecimento que o país havia voltado para o sombrio mapa da fome, então, sabia da multidão famélica. O Brasil que promove o genocídio da juventude preta? Ou o Brasil, que tem a polícia que mais mata no mundo? Não! Carlinhos Brown não é o Brasil que deu certo! Ele representa dois Brasis.

Um que deu sorte, pois, não foi confundido com um bandido por causa da cor da sua pele nem confundiram a sua baqueta com uma arma. Segundo é o país que deu, totalmente, errado. Porque um homem negro, oriundo de um bairro popular (de Salvador/BA) que recebeu toda a carga negativa e as consequências nefastas da escravização, que teve e tem acesso a conhecimentos e as discussões entre artistas e intelectuais sobre o assunto do racismo, e não entendeu nada ainda. Ou ele não sabe quem é. Ou não se reconhece enquanto, negro. Ou talvez, Carlinhos Brown seja o maior caso de blackface da história, e nós não sabíamos. Ele pode ser branco pintado de preto. Também, pode ser que tivesse o dom da invisibilidade quando jovem preto e pobre diante da PM/BA.

Ou a explicação desse comportamento está em um conceito marxista, a  consciência cínica. Ou seja, ele sabe de tudo isso, mas conscientemente decide ignorar. Faz uso da cultura, da religião dos pretos, para ganhar muito dinheiro e projeção internacional com seus elementos, riquezas e complexidades. Porém, no momento, em que se precisa de alguém, para levantar a bandeira para defender os pretos e pobres, ele mete essa: “Eu não me meto nisso!”

Talvez, esteja na hora de Carlinhos Brown, conhecido também, nos países hispânicos, como Carlitos Marron, trocar o seu pseudônimo para Carlitos Blanquito.

Muita gente pode dizer: “Mas, ele é um gênio!”. Um gênio sem sensibilidade é apenas um técnico bem treinado. E, também, podem lembrar, que El Blanquito tem um projeto social em Salvador. Mas, que tipo de educação, ele tem promovido? É a educação libertadora? Ou tão somente treina operários da arte sem consciência e senso crítico?

E, por último, ele falou, que a cultura não é política. Realmente, Carlitos pode ter uma consciência cínica, ou simplesmente, corre o risco, que ele possa ser um ignorante da própria área em que atua há décadas. Porque a vida humana é intrínseca e eminentemente política, você querendo ou não. O filósofo Aristóteles disse que a política é a arte do viver bem. É viver em relação com o outro, fazendo negociações e concessões em nome do bem comum ou maior. E fazemos isso o tempo todo nas nossas vidas. A não ser que ele, Carlinhos Brown, não se ache um ser humano, um simples mortal, mas, um deus, um orixá. Para a nossa sorte o lugar de Orixá vivo entre nós já estar ocupado por Gil! E, que por sinal, é um gênio!

Este texto contém a opinião do autor: B.I.F. da Gama

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