“Assata: Uma Autobiografia” chega ao Brasil pela Pallas Editora e é lançado com debates no Rio e em São Paulo

Capa – Assata: Uma Autobiografia. (Imagem: Divulgação).
Capa – Assata: Uma Autobiografia. (Imagem: Divulgação).

Publicada em 1988, com prefácio de Angela Davis, “Assata: Uma Autobiografia”, escrito pela revolucionária Assata Shakur, finalmente chega ao nosso país nesta edição histórica da Pallas Editora. Convidada para escrever a apresentação brasileira, a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, especializada em escravidão nas Américas e autora Pallas, destacou que “toda a vida de Assata Shakur vale a pena. E nada do que eu disser pode chegar perto da potência e da vivacidade com as quais Assata narra sua vida”.

“Esta autobiografia é a materialização do conceito de escrevivência cunhado por Conceição Evaristo. Sendo assim, se me cabe dar um conselho para quem (pelas mais variadas razões) se deparou com este livro, é: leia-o, e se deixe afetar”, avança Ynaê, num texto elucidativo. De fato, o legado de Assata para a luta antirracista é fundamental e, certamente, ecoa nos protestos de hoje, como o Black Lives Matter – Vidas Negras Importam, como é chamado por aqui. A leitura dos seus poemas vem inspirando essa nova geração no enfrentamento do racismo.

Lançamentos com debates na Blooks (RJ) e na Megafauna (SP)

O livro terá duplo lançamento. O primeiro encontro aconteceu na quinta, 14 de julho na Blooks Botafogo, Rio de Janeiro, reunindo a escritora Cidinha da Silva, a médica, ativista, escritora e diretora executiva da Anistia Internacional Brasil Jurema Werneck e a supracitada Ynaê para um papo sobre a vida inspiradora de Assata.

No dia 20 de julho, será a vez de chegar ao público paulistano. A Megafauna receberá Cidinha da Silva e a cantora, atriz e ativista Preta Ferreira, autora de um livro no qual narra os 109 dias em que passou, injustamente, na prisão, em 2019.

Nascida JoAnne Deborah Byron, no Queens, condado de Nova Iorque, há quase 75 anos – a serem completados em 16 de julho próximo -, Assata está na lista de “terroristas mais procurados” pelo FBI, o serviço de inteligência norte-americano. Já era um nome de proa nos movimentos radicais antirracistas, ligada aos Panteras Negras e ao Exército de Libertação Negra, por exemplo, até ser condenada pela morte do policial Werner Foerster, ocorrida numa emboscada cinematográfica em uma rodovia de Nova Jérsei em 1973.

“Todo dia era meu último dia na terra. Toda noite era minha última noite. Depois de um tempo, eu me acostumei. Fiquei imune. Às vezes, eles empunhavam uma arma que eu não sabia que estava descarregada, faziam um longo e apaixonado discurso e depois puxavam o gatilho. Outras vezes, eu era convidada a participar de uma roleta russa. Todos eles expressavam um ódio profundo por mim. Eles eram policiais militares e eu era acusada de ter matado um deles”, escreve Assata, já nas primeiras das 472 páginas confessionais. O ponto de partida é justamente o atentado.

Entre abril de 1971 e maio de 1973, ela foi acusada por um punhado de crimes: assalto à mão armada em hotel, assalto a dois bancos, sequestro de traficante de drogas, depois assassinato de traficante de drogas, tentativa de assassinato de policiais e assassinato de soldados estaduais. Alguns desses processos foram arquivados e, por outros, ela foi absolvida, mas a condenação veio com força pela morte de Foerster. Mesmo sem vestígios de pólvora nos dedos, foi condenada e é procurada até hoje. Faz cerca de quatro décadas que Assata está foragida. Há suspeitas de que esteja exilada em Cuba.

O exílio político se deu a partir dos anos 80. Ela foi para atrás das grades em 1977. Fugiu da prisão em 1979, quando foi libertada por três homens negros, que invadiram a cadeia armados até a alma com este fim. Tudo isso está contado em detalhes na trama, que poderia ser adaptada para um roteiro de série ou filme de ação. A escrita de Assata é cortante como a sua trajetória.

“Embora sempre tenha pensado que algum dia provavelmente estaria envolvida na luta clandestina, nunca pensei em, de fato, mergulhar em algo assim. Eu meio que imaginava que seria algo como viver uma vida dupla. Pensava que a forma ideal de lutar era ter um emprego regular, ou qualquer outro disfarce, e sair à noite, ou quando desse, e fazer o que precisava ser feito, com cuidado para não deixar rastros. Ainda acho que é a melhor forma, mas você tem que saber que pode ser descoberta e ficar preparada para o que quer que aconteça”, escreve Assata  no livro.

Traduzido por Carla Branco, o livro desponta nas livrarias brasileiras logo após Sundiata Acoli ganhar a liberdade condicional, em 11 de maio último, aos 85 anos. O membro dos Panteras Negras que estava no carro com Assata naquele fatídico 2 de maio de 1973 ficou detido por meio século.

Sobre o título, agora disponível em português através da Pallas Editora, a professora e filósofa Angela Davis avisou, no prefácio: “Ao ler sua extraordinária autobiografia, você descobrirá uma mulher que não tem nada em comum com as representações hostis que insistem em se perpetuar. Insisto que você reflita sobre como deve ser para ela não ter podido comparecer ao funeral de sua mãe ou ter ido conhecer o novo neto. Ao acompanhar a história de sua vida, você descobrirá um ser humano terno, com um compromisso inabalável com a justiça que viaja facilmente através de linhas raciais e étnicas, dentro e fora da prisão e através dos oceanos e do tempo”.

O nome de Assata Shakur vale muito mais do que os dois milhões de dólares que o FBI oferece pela sua captura.

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