De tanto se pedir, a intervenção militar poderá vir de fato, a depender das manifestações dos bolsomínions que se revelam mais irados e radicais à medida que correm os dias, respaldados pela inação, por leniência ou covardia, das instituições que devem zelar pelo cumprimento da Constituição. E não apenas as forças armadas, Congresso, polícias, judiciário, mas também pela sociedade que segue acreditando e difundindo notícias falsas para perturbar a ordem e embaralhar fatos e mentiras na mesa da transição do atual para o próximo governo.
Ao lado de gente aparentemente irracional aos gritos contra a posse de Lula em janeiro, que na realidade age em nome do golpe, já surgem as fake news dizendo que Lula “começou a roubar” porque a equipe de transição afirma não haver dinheiro para o mínimo que se pretende. Ora, não há porque o atual governo raspou os cofres para financiar a aventura da reeleição sem os votos necessários. Se for feito o cálculo dos votos do presidente no primeiro turno (43,20%) com a votação no segundo (49,1%), pode-se imaginar o esforço financeiro feito em outubro para alcançar quase a metade dos votos válidos. Do outro lado, Lula teve 48,40% e 50,90% nos dois turnos, um crescimento praticamente inercial para o candidato que quase liquidou a fatura no primeiro turno.
Hoje, enquanto bolsomínions revoltam-se nas ruas e redes sociais e acusam fraude e roubos sem prova alguma, o presidente da república age em mão dupla: apela pelo fim dos bloqueios rodoviários (que ainda acontecem pontualmente!) ao mesmo tempo que publica vídeos dúbios insinuando apoio pessoal à baderna e ao desrespeito à Constituição. Enquanto as instituições, se atuam o fazem em ritmo protocolar burocrático, o presidente e seus acólitos avançam no galope golpista inconstitucional.
Deve haver uma maneira de, pelo menos, afastar o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, bolsonarista e carreirista sob investigação do Supremo e do TSE. Já seria uma sinalização aos rebeldes de que terão de ajustar contas com a justiça e um aceno à opinião pública que começa a temer pelo desfecho desta história malcheirosa.