Ontem completou uma semana da eleição de Lula e fui visitar um pastor evangélico meu amigo que chama bolsomínio de “quadrúpede lanoso” no subúrbio da Vicente de Carvalho. Visitas dominicais a pastores costumam ocorrer cedo, de modo que antes das nove embarquei no metrô e deparei com um contingente de pessoas vestidas de amarelo, portando bandeiras nacionais e adereços diversos alusivos à campanha do presidente derrotado e que já julgava morto e enterrado, parte da história do país que logo esqueceria.
“Qualoquê!” O metrô transportava um exército de zumbis bolsomínios à manifestação em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste, onde outros tantos zumbis manifestantes os aguardavam para mais um domingo cívico em defesa de Deus, da pátria e da família. Uma turba cheirando a naftalina e Lysoform majoritariamente de meia idade para idade avançada e embalada por gritos de “intervenção militar já!”
Desembarcaram na Central do Brasil sem arruaça, como homens e mulheres de bem rumo a uma manifestação em defesa da família tradicional, da pátria perdida e de um Deus indefinido e vagamente cristão. Cumprem, na realidade, um ritual triste, o de pedir uma ditadura militar novinha em folha para chamar de sua. Das janelas do Palácio Duque de Caxias olhos observam a cena que se prolonga por dias e dias e se repete em São Paulo, Porto Alegre, Brasília. Talvez um dia, cansados dos apelos, os militares desçam às ruas nos seus tanques para tirar a limpo essa história de democracia que não vinga no Brasil, nem com o apoio dos Estados Unidos e da Europa.
Como nós, o mundo teve nos últimos quatro anos uma amostra bastante ilustrativa das barbaridades que os generais e coronéis são capazes de fazer com um país como o Brasil em suas mãos. Roubo, fraude, segredos e mentiras, trapaças…o repertório é vário. E além disso, um golpe que se preze não abre mão do elemento surpresa – o que as manifestações amarelas não são há uma semana, pelo menos.
Seria melhor o Exército dispersar os manifestantes diante dos quartéis o quanto antes, quando muito não seja para manter o ar de seriedade que ostenta com tanto garbo. As senhoras e os senhores de amarelo podem ser confundidos com apoiadores do Lula, se continuarem nas ruas até o fim do ano. – vejam só que situação difícil de resolver!