Mulheres da Ilha de Maré criam coleção infantil através do Acelera IAÔ

Crédito: Rodrigo Bertoldo

A última sexta-feira (11) foi um dia muito especial para a comunidade quilombola de Praia Grande, proporcionado pelas mulheres da Abecim – Associação Beneficente Educacional e Cultural da Ilha de Maré, junto com a Fábrica Cultural, através do programa Acelera Iaô.

Com a curadoria da designer de moda Carol Barreto, elas desenvolveram uma coleção infantil apresentada pelas crianças na escola Municipal de Ilha de Maré. A ação, do programa Acelera Iaô, também está sendo realizada no quilombo de JatiNmane, em Nilo Peçanha.

Cada comunidade recebeu o valor de R$ 10 mil reais, utilizados para potencializar a produção artesanal e fortalecer o valor cultural e econômico da localidade.

Crédito: Rodrigo Bertoldo

O encontro de dois meses de Carol Barreto com o grupo de mulheres quilombolas resultou em uma coleção infantil lúdica, colorida, repleta de estampas e muito confortável. Uma moda rica em detalhes, como fuxicos e rendas de bilros. Dentro das perspectivas da sustentabilidade, a consultora buscou construir a coleção com materiais já disponíveis nos armários da associação, como retalhos, bicos de rendas e sintéticos, entre outros.

A partir do convite do Acelera Iaô, Carol Barreto decidiu atuar sobre a perspectiva de moda ativismo, conceito que desenvolveu para o seu doutorado, e produzir, acima de qualquer pensamento sobre negócios, uma potencialização no campo da criação.

“A associação tem poucas mulheres, que são marisqueiras, pescadoras e produtoras de vários outros insumos, pois atualmente existe pouca produção de renda de bilro e bordados a mão na Ilha de Maré. Esperamos que, a partir da construção de uma coleção infantil, com a cara de criança, a gente possa atrair a atenção de outras gerações para a associação e conseguir que meninos e meninas mais jovens se interessem pelos saberes e afazeres das mulheres mais idosas”, afirma Carol Barreto.

Crédito: Rodrigo Bertoldo

A presidente da Abecim, Selma Jesus de Sousa, teve a primeira informação sobre o projeto através do site da Fábrica Cultural. Já em contato com o programa ficou sabendo que Margareth Menezes, presidente da Fábrica Cultural, tinha a intenção de realizar um trabalho social em Ilha de Maré, berço de sua mãe, Dona Diva.

 “Para a associação é muito importante este projeto, que a gente sonhava em receber desde 2002, quando a Abecim foi fundada. Já tínhamos uma infraestrutura, adquirida em outro projeto, mas este está trazendo benefícios para toda a comunidade. Destaco também a importância da consultoria de Carol Barreto, que promoveu uma maior credibilidade a associação, principalmente em relação às comunidades quilombolas da ilha”, afirma Selma.

A professora de costura Olga Anita, que chegou à ilha através de outro projeto, conta que o programa do Acelera Iaô promoveu uma união maior entre as mulheres da associação. “Nunca tivemos uma consultoria com a importância desse nosso encontro com Carol Barreto. A partir de suas ideias vimos a necessidade de criar uma coleção infantil, sem fazer miniaturas de modelos de adultos para crianças. Isso motivou ainda mais as mulheres aprenderem e produzirem através desse projeto semente, que já está rendendo frutos. Despertou também outras mulheres, principalmente de outras localidades de Ilha de Maré, que estão procurando a Abecim”, festeja.

“A coleção colaborativa de moda infantil de Ilha de Maré é muito mais do que uma entrega, é uma conquista. E a conquista não é nossa, mas sim das mulheres que, gentilmente, nos acolheram, permitiram a nossa chegada e se permitiram vivenciar esta jornada imersiva que culminou no nascimento desta coleção. Hoje, elas têm uma coleção cápsula feita a várias mãos, de caráter social, sustentável e comunitário, tecida com a sensibilidade de quem vive o dia a dia no chão da ilha para quem está disposto a vestir sua criança com roupas para brincar. O trabalho não pode parar e, quem chegar, precisa chegar entendendo e validando esta história”, afirma Mayla Pitta, coordenadora da Fábrica Cultural.

Crédito: Rodrigo Bertoldo

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