Crônica: Jequié está embaixo d’água

Foto: site Correio
Foto: site Correio

Em 1982 fui testemunha de uma grande enchente na Cidade Sol. Eu tinha 16 anos, tinha acabado de ficar órfão de pai, vivia com minha mãe paralítica e sete irmãos numa casa emprestada, sem água e sem luz.

Vivia de esmolas e a enchente trouxe comida estragada pra encher nosso bucho: recolhemos no esgoto.

Quarenta anos depois, em pleno 2022 de negacionismo e terroristas tacando fogo em Brasília, já tenho renda própria e minha família não está mais na mendicância.

Mas o caos no país continua o mesmo, fome, genocídio de jovens negros e indígenas, destruição do meio ambiente etc.

Pelo mundo, o aquecimento global causando destruição por nevascas, queimando florestas, sem falar na poluição desenfreada.

O que isso tem a ver com a enchente dos rios das Contas e Jequiezinho?

Além da falta de educação ambiental da população e de combate aos efeitos da destruição do planeta, nenhuma ou pouca ação efetiva coordenada pelas autoridades tem acontecido.

Só medidas paliativas, campanhas para arrecadar alimentos, móveis e reconstrução de imóveis. É muito pouco, é quase nada. Passada a tempestade, a concentração de renda nas mãos de apenas 28% da população, os latifúndios e as Capitanias Hereditárias permanecem com as mesmas famílias…

E esta não é uma crítica isolada a prefeito atual, a equipe de bombeiros, à imprensa que repete a fala da Chesf ou do secretário estadual de meio ambiente.

É um chamado para todos e todas.

O risco de desastres catastróficos é iminente e real. E já passou da hora de se tomar medida ampla, articulada com fazendeiros, empresários, vendedores ambulantes, moradores das áreas de risco, Congresso, Executivo, Judiciário, Estados, Municípios, banqueiros e religiosos.

Ou vamos esperar o calendário andar mais rápido e anúncios de tragédias cada vez piores. Até quando?

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Valdeck Almeida de Jesus
Valdeck Almeida de Jesus é jornalista definido após várias tentativas em outros cursos, atua como free lancer, reconhecendo-se como tal há bastante tempo. Natural de Jequié-BA (1966), e escreve poesia desde os 12, sendo este o encontro com o mundo sem regras. Sua escrita tem como temática principal a denúncia: política, de gênero, de raça, de condição social, de preconceitos diversos: machismo, homofobia, racismo, misoginia. Coordena o movimento “Galinha pulando”, o qual pode ser visto no blog, no site e nas publicações impressas. Este movimento promove anualmente um concurso literário, aberto a escritores(as) do Brasil e do exterior. A poesia lhe trouxe o encantamento, mundos paralelos, as trocas, a autocrítica, a projeção de si e de outro(s), maior consciência de classe e de coletivo. Espera que as sementes plantadas se tornem árvores, florescendo e frutificando em solos assaz diversos. Possui 23 livros autorais e participa de 152 antologias. Tem textos publicados em espanhol, italiano, inglês, alemão, holandês e francês. Participa de vários coletivos da periferia de várias cidades, bem como de algumas academias culturais e literárias.