O MUTHA é um museu virtual de acesso gratuito de história e arte, criado para registrar as memórias e trabalhos artísticos da população transgênero. É o único museu no país com protagonismo trans. Inaugurado em 2020, em dezembro deste ano foi aberta uma de suas partes principais, o arquivo histórico, que pretende proporcionar espaço para que essa população conte e gerencie suas próprias memórias.

O site visa também a produção de dados sobre uma população que é esquecida nas estatísticas oficiais do Estado. Esses dados poderão ser utilizados em pesquisas de diversas áreas, que auxiliarão na busca por direitos.

Outra intenção do MUTHA é ser um espaço que contemple a diversidade dentro da própria comunidade trans. Para haver protagonismo sem violência, é preciso considerar e promover a presença de inúmeras identidades de gênero e de diferentes pessoas. Isso pode evitar que um indivíduo apenas represente toda uma população.

Espetáculo Sebastian/Ian Guimarães Habib e Saulo Almeida/Foto: Sofia Pulgatti

Surgimento

A ideia do museu surgiu em 2018, através da pesquisa de mestrado de Ian Habib, 33 anos, artista, pesquisadore e professore de Artes Cênicas. Sua dissertação intitulada Corpos Transformacionais, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi publicada como livro em 2021 pela Editora Hucitec.

A inspiração para o nome MUTHA vem do objeto de pesquisa de Ian, que trata da transformação corporal no teatro, dança e performance. A transformação corporal pode se dar com uso de figurinos, máscaras, ingestão de substâncias, rituais e movimentos.

“Costumo dizer que o MUTHA tem como foco a transformação de seres e mundos. Na perspectiva do Arquivo Histórico, o tempo da transformação corporal é o que chamo de transtemporalidade, a ideia de que pessoas trans sempre existiram e sempre existirão.”

Apagamento e visibilidade

Habib conta que a motivação para abrir o museu veio de um episódio de censura que sofreu em uma peça de teatro e de sua repercussão. “Abrindo as mais de dez mídias produzidas sobre o caso, notei um fato importante para a história do teatro trans brasileiro: meu nome, o nome da única pessoa em cena em um solo autobiográfico, sequer foi citado em nenhuma delas.”

A partir disso, Ian decide pesquisar a história da censura a pessoas trans na ditadura militar brasileira, notando os apagamentos de nomes próprios, o que se relaciona com diversas outras memórias da comunidade trans.

“Considerei importante fazer esses arquivos circularem, como uma resposta ao mecanismo censor, uma maneira de dizer que nossas memórias se multiplicarão, apesar de todas as tentativas de extermínio. Assim nasceu o MUTHA.”

Fabiane Galvão, de Salvador, na foto intitulada “Me segurando pra não cair”. Acervo pessoal

 

Ontem e hoje

Ian enfrentou percalços em sua trajetória profissional, como, por exemplo, ter passado pelo desemprego ocasionado pela censura e outras privações de direitos. Assim, o museu também surge das vitórias da comunidade trans. Isso envolve o trabalho produzido e a ancestralidade, pessoas que morreram, mas que criaram projetos anteriores.

Após a inauguração do acervo histórico, Habib diz que, entre as metas do museu está a chegada de mais pessoas. Também fazer o projeto ficar mais popular e acessível. “Desejamos melhorar nossa acessibilidade e ampliar o nosso acervo, por isso pedimos doações e compartilhamentos, já que a memória de populações subalternizadas deve ser uma responsabilidade pública e comunitária, de todas as pessoas.”

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