Jovens com a cara pintada saíram às ruas exigindo a saída do presidente. Foto: Agência Brasil

 

Os motivos eram diferentes dos que agora nos preocupam, sobretudo o temor de violência na posse de Lula, mas envolviam, como neste final de ano, a troca de presidentes: em 1992, exatamente no dia 29 de dezembro, começava no Senado a seção que afastaria definitivamente Fernando Collor de Mello.

Ele havia sofrido impeachment pela Câmara dos Deputados por corrupção, com elástico placar desfavorável: 442 votos contra 33. Faltava a confirmação dos senadores. Além da crise econômica, meses antes seu irmão, Pedro Collor de Mello, denunciara a roubalheira no governo.

A peça central era o tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias. O esquema envolvia ministros, amigos do presidente e até a primeira-dama, Roseane Collor. Seu marido era o presidente mais jovem do Brasil, com 40 anos, guindado à presidência midiaticamente como “caçador de marajás”.

Depois de desastradas medidas econômicas e do fuzilamento da imprensa, que antes o apoiara, o governo Collor derretia. Havia jovens nas ruas pedindo sua saída, os famosos “caras-pintadas”.

Cassado mesmo após renúncia

A seção do Senado que suspendeu por oito anos os direitos políticos de Collor começou às 9 horas da manhã. Quando sua primeira testemunha de defesa falava, o advogado do presidente leu um bilhete manuscrito anunciando a renúncia.

Collor solicitava a suspensão do julgamento pelos senadores, mas a estratégia não deu certo. Duas horas depois da renúncia, o então vice-presidente Itamar Franco tomava posse.

A seção do senado continuou e, na madrugada seguinte, Collor era condenado por uso indevido de verba pública. O placar arrasador foi de 76 votos contra três.

Diferenças históricas

Collor chegou à presidência na primeira eleição livre após a Ditadura. Derrotou o mesmo Lula que, no próximo domingo, assume o terceiro mandato à frente do país. Ambos estreavam pleiteando a chefia do Executivo nacional.

Collor teve imenso apoio da imprensa, enquanto Lula nem sonhava em ser o líder político que se tornou. Era ridicularizado pelos modos de falar, de vestir, pela barba, pelas propostas. Parecia um alienígena diante do adversário bonitão, que praticava esportes.

Mesmo assim, Lula teve bom desempenho e muitos acreditam que, se não fosse a edição criminosa do último debate entre os candidatos, veiculado pelo Jornal Nacional, o resultado poderia ter sido diferente.

Possíveis confluências

O governo Collor ruiu como o de Bolsonaro. A diferença é que, em 1992, não havia apoio popular ao presidente que saía. Pelo menos não tão radical quanto hoje.

A saída de Collor, apesar de ridícula, foi mais digna do que a de Bolsonaro, que pretende embarcar para os Estados Unidos, onde deve chorar as mágoas.

Os dois finais foram um alívio para a sociedade brasileira, quiçá mundial. Collor ainda teve sobrevida. Bolsonaro terá? Se seu governo foi pior que o de Collor, o futuro político do ex-capitão também pode ser.

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