Uma mangateca é uma biblioteca de histórias em quadrinhos e mangás, como a mangateca comunitária DICRIA, vinculada ao Instagram @animedicria, ambos projetos idealizados pelo fotógrafo, editor e designer Ed Cura. O espaço pretende incentivar a leitura em crianças e jovens do morro do Fallet, em Santa Teresa, Rio de Janeiro.

Segundo Ed, os livros auxiliam na perspectiva de futuro para as crianças e jovens que frequentam o local. “Eu quero é mostrar pra eles que tudo é possível, sabe? Não precisa seguir o estereótipo da pessoa favelada, só falar sobre funk, sobre violência e essas coisas, tá ligado? É meio que abrir o horizonte deles, gerar acesso. É isso que a gente prega na mangateca, no anime DICRIA.”

Periférico nipônico

Ed também fala para a ANF sobre a relação da periferia com a cultura japonesa, apesar de parecer serem mundos totalmente opostos. O Japão está do outro lado do mundo. “A própria história do Naruto, se parar pra pensar, se eu contar só a história do Naruto, você vai dizer ‘cara, é uma pessoa periférica’. Ele perdeu o pai, a mãe, criado sozinho, todas as pessoas ao seu redor olham pra ele como se tivesse um demônio dentro dele, tá ligado? Essa pode ser a história de qualquer pessoa periférica.”

Ele acredita que a semelhança de narrativa acaba representando muito a população periférica e isso toca nos seus corações. É a identificação: crianças e jovens conseguem se ver no Naruto, ou em personagens do tipo.

Periférico norte-americano

Ed complementa com outro exemplo, da cultura de histórias em quadrinhos estadunidense. “O Peter Parker é uma pessoa meio que ferrada, não tem grana, vários corres. É faculdade, trabalha como fotógrafo, às vezes não tem tempo pra nada e isso pode ser, querendo ou não, a história de uma pessoa periférica.”

Segundo o criador da mangateca, “essa semelhança na narrativa, que entra o lance do real e do fictício, acaba aproximando muito a galera. Eu acho que por isso tem esse boom tão grande, a periferia acaba se identificando muito com essas histórias.”

No último balanço divulgado, o custo foi de pouco mais de R$ 3 mil.

 

Pamela Pereira e Ed Cura | Arquivo Pessoal

Mulheres nos quadrinhos

A ANF também conversou com Pamela Pereira, 24 anos e moradora de Nilópolis, na Baixada Fluminense, responsável pela comunicação e audiovisual do Anime DICRIA. Ela conta como funciona para fazer parte da mangateca.

“Acredito que tudo parte do interesse mesmo. Se a pessoa se sentir aberta a abraçar o projeto, a gente com certeza vai ter um lugar pra ela e algo pra fazer. A gente tem muita coisa pra ser feita e quanto mais braços, melhor.”

A equipe da mangateca cuida do espaço e das crianças que o visitam. “A gente acaba sendo uma grande família que cuida de tudo, o que tiver pra fazer, a pessoa vem e faz.”

Doações

Quem quiser doar acervo, é só chegar, sem burocracia. Tudo o que existe na mangateca foi doado, de objetos a doações em dinheiro.

“A gente recebe por PIX doação pra conta do anime DICRIA, que é o que mantém tudo vivo aqui, a questão da alimentação das crianças, material, até limpeza do espaço, além de pagar aluguel, internet, essas coisas, sabe? Que é o que ajuda a manter tudo vivo, porque sem a galera a gente não conseguiria.”

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