Bauru, cidade do interior paulista onde Pelé começou a carreira, tem alguns apelidos, como “cidade sem limites”. Também é sinônimo de um lanche conhecido nacionalmente, cuja paternidade é reivindicada pelos defensores da cultura local.

A cidade ainda é chamada, num viés mais acadêmico, de “chão de passagem”. Foi importante entroncamento ferroviário e recebe milhares de estudantes que permanecem em Bauru durante a formação universitária – há instituições particulares e públicas, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade de São Paulo (USP).

Discute-se a validade dessas definições, entre parciais e exageradas, mas, no caso de Pelé, a conceito de “chão de passagem” faz sentido. Ele atuou pouco tempo no Bauru Atlético Clube (BAC) e em três jogos amistosos pelo Esporte Clube Noroeste, entre 1954 e 1955.

Mas talvez não seja só pela curta permanência que Pelé é pouco presente na cidade. Isso explica parcialmente o fenômeno. A atuação em Bauru ocorreu 70 anos atrás e, apesar de demonstrar suas qualidades desde o início da carreira, o jogador ficou famoso no Santos.

Antes do time que o projetou mundialmente, as equipes que Pelé defendeu em Bauru nunca tiveram presença nacional. Isso certamente teria sido um fator de reconhecimento. Seria um honroso cartão de visitas poder dizer algo como “este é o BAC, time em que Pelé começou a carreira”.

O BAC nem existe mais. E a rivalidade com o Noroeste pode ter transformado o que poderia ser o carinho geral, aglutinador, em divisão das torcidas locais. Além disso, atuando pelo Santos, Pelé foi campeão paulista em cima do Noroeste, em 1958, além de ter causado outros dissabores futebolísticos ao “Norusca”.

O fato de Bauru ter relevante população temporária é outro aspecto: nem Pelé, nem muitos moradores ficaram na cidade. E, enquanto permaneceram por lá, continuaram torcendo para seus times de origem.

Não é de praxe apresentar a cidade como “Bauru, a cidade onde Pelé começou a jogar”. Pergunte aos universitários. Eles provavelmente falarão das faculdades, do lanche, das repúblicas estudantis, da vida noturna que arrefece durante as férias.

Acredite se quiser, mas não existe estátua de Pelé em Bauru, nem praça com seu nome, museu, memorial, nada. A casa onde morou foi derrubada. Para não dizer que nunca foi homenageado, o jogador recebeu o título de cidadão bauruense. Em 1975.

Provocada pela morte de Pelé, a prefeita encaminhou projeto à Câmara Municipal propondo que um novo complexo esportivo tenha o nome de Edson Arantes do Nascimento.

Caberá aos vereadores, posteriormente, elaborar e aprovar decreto legislativo para oficializar a proposta. De acordo com a Lei Orgânica, é prerrogativa da Casa de Leis dar nome a prédios municipais.

Apesar dessa iniciativa de ocasião, a morte de Pelé, enterrado em Santos, ao invés de reavivar a memória do jogador em Bauru, pode enterrar definitivamente sua história na cidade.