Em Salvador, Bairro da Paz terá ações do Fórum de Saúde das Periferias

Crédito: ANF

No início de fevereiro, representantes institucionais e moradores fizeram uma reunião com objetivo de avaliar a visita técnica do Fórum de Saúde das Periferias da Bahia, no Bairro da Paz, em parceria com a Agência de Notícias das Favelas (ANF). O encontro serviu para pensar na criação de um diagnostico para reforçar o plano de ação apresentado no início deste ano, quando foi efetivado o referido Fórum, tendo como apoiadores diversos representantes de organizações sociais do Estado, além da Fiocruz Rio de Janeiro e Bahia.

O coletivo elencou algumas prioridades, que já estão em execução, e outras que serão planejadas ao longo de 2023 em diversas cidades baianas. Como ação prática, foram pensadas intervenções em regiões estratégicas da comunidade. O objetivo é traçar um plano de atividades com apoio dos moradores e instituições para melhorar o serviço de saúde no local.

Ubiraildes Marques, gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Orlando Imbhassay, localizada no Bairro da Paz, relatou as dificuldades de atendimento à população, tanto por conta da falta de estrutura como pela ausência de uma Unidade de Saúde da Família (USF).

Reunião com a comunidade definiu prioridades e ações de saúde na periferia de Salvador

Saúde na medida do possível

“A gente sofre como profissional, porque precisamos atender o que é necessário ser atendido. É uma necessidade da equipe e do bairro que exista uma unidade da saúde da família”, relata Ubiraildes Marques.

A gerente falou sobre a demanda local, o volume de pessoas encaminhadas de outros bairros e até de outras cidades. Isso aumenta o problema de atendimento de saúde, só existe uma unidade básica na região. “Percebe-se como o descuido é coletivo e não somente centralizado”.

Na reunião, foram definidas como prioridades do Bairro da Paz a criação do Conselho local gestor de saúde, a implantação de sistema eletrônico para a gestão da UBS e a implantação de uma Unidade de Saúde da Família (USF). Essas propostas serão apresentadas aos gestores da secretaria municipal de Saúde de Salvador e da UBS pelas entidades representativas dos moradores, com o apoio do Fórum.

Como parte da programação da visita, uma ação social oferecida pela Faculdade Internacional de Evolução Profissional (FIEP), com apoio da Agência de Notícias das Favelas (ANF) e da Base Comunitária do Bairro da Paz, moradores da comunidade puderam ter acesso aos cuidados de optometrias especializados.

Fizeram, por exemplo, exames optométricos, que servem para identificar problemas visuais primários não invasivos. Aproximadamente 50 pessoas foram atendidas gratuitamente, conforme foto abaixo (outras imagens desse atendimento estão na galeria no final da matéria).

Dificuldades

Mesmo com equipe pequena de profissionais de saúde para lidar com a alta demanda, a gerente da UBS se disse contente e orgulhosa. Conseguiram ajudar a comunidade, incluindo os programas voltados para a saúde criados para a melhoria da qualidade de vida da população do bairro.

“Temos o programa do idoso, no qual ele passa por farmacêutico para observar se está tomando a medicação correta, por ter toda a questão do esquecimento, pela idade”.

A saúde educativa também foi uma das pautas destacadas na roda de conversa, sobre como os profissionais de saúde da comunidade tem o cuidado com os pacientes. Segundo Sueli Ferreira, enfermeira da UBS do bairro da Paz, “a gente chama a família e conversa para explicar as formas de uso do medicamento, qual o local. Então trabalhamos com a forma educativa, o paciente não fica solto”.

Uma luta contínua

Com a falta de políticas públicas de saúde, a região acaba ficando descuidada. E a situação não piora por causa dos próprios moradores, como disse Mem Costa, professor de História e morador do bairro da Paz desde a fundação.

“Os moradores são os responsáveis por correr atrás do básico, se mobilizando e fechando ruas, fazendo caminhada em protesto para as autoridades públicas sobre as necessidades que a população do bairro precisa, e que é um direito de todos”, disse.

A partir dos pontos estratégicos traçados na reunião com integrantes do Fórum, houve uma caminhada no bairro, passando pela Escola Municipal Nossa Senhora da Paz. Ela foi construída na década de 90, e é querida pela população por ser a primeira do bairro.

Segundo a diretora da escola, “a gente precisa ocupar primeiro os espaços que a gente tem, para depois ter argumentos significados, pois a gente vai lutar contra a vontade política”.

A escola conta com 56 professores e 35 turmas. São do fundamental I (apenas matutino), fundamental II (vespertino), e EJA I e II (apenas para o noturno). A escola tem pátio coberto, mas quadra de esporte descoberta; sala da diretoria, de leitura e dos professores; banheiro; biblioteca; cozinha; dispensa; banheiro para funcionários e outro, adequado a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, entre outros espaços.

O bairro da Paz tem quatro escolas, sendo três municipais e uma estadual.

Histórico

A história do Bairro da Paz começou em 1982, com famílias do interior da Bahia ocupando um terreno público para darem início a uma nova vida. O bairro fica localizado entre as avenidas Luís Viana Filho (Avenida Paralela) e Orlando Gomes, na zona Norte de Salvador.

De acordo com o IBGE 2010, a população chega a 35 mil habitantes. Segundo alguns líderes comunitários, o total pode estar chegando ao dobro. Isso preocupa ainda mais por causa da falta de estrutura. Trata-se da única favela entre condomínios, shopping, clubes, parques e faculdades.

A fundação do bairro foi repleta de muita garra e determinação da população, que correu atrás para construírem um lugar onde pudessem se sentir seguros. Inicialmente chamado de Malvinas, em referência à Guerra das Malvinas entre Inglaterra e Argentina, o nome foi modificado para Bairro da Paz, por escolha em consenso dos moradores.

Atualmente, o bairro se encontra mais estruturado do que no início. E cresce, porém sem grandes cuidados governamentais, fazendo com que os próprios moradores tenham que resolver os problemas da comunidade, como estão fazendo em relação à saúde.

Esta matéria foi produzida com apoio do Edital Google News Initiative.

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