Viagem de Lula aos EUA pode causar “saia justa” diplomática

Lula e Biden se encontram nos EUA - Foto France Presse

É possível que a situação diplomática de Jair Bolsonaro ainda esteja indefinida quando o presidente Lula desembarcar nos Estados Unidos no próximo dia 9, como está acertado entre os dois governos. Mas mesmo que ele já esteja com o visto acertado e fazendo palestras onde for convidado, persistirá o risco de uma saia justa em decorrência dos pontos de vista antagônicos entre o ex e o atual presidentes brasileiros, que extrapolam para as divergências entre Biden e Trump.

Em carta a Joe Biden, 46 deputados democratas americanos e cerca de 30 brasileiros pedem que os Estados Unidos cancelem qualquer visto a Bolsonaro, ao mesmo tempo em que o jornal britânico Financial Times noticia que seu advogado já deu entrada no pedido, que deve ser avaliado favoravelmente, tendo em vista o possível ciclo de conferências em universidades, associações e organizações profissionais de tendências variadas. A possível saia justa ocorrerá, por exemplo, se ambos trocarem farpas pelas mídias durante a visita de Lula ao país.

É preciso levar em conta que as investigações sobre as invasões dos prédios públicos em Brasília no 8 de Janeiro prosseguem no âmbito federal e podem, a depender do andamento, ensejar manifestações de apoio ao governo Lula por onde ele andar no solo americano. Como as reuniões para ouvir o capitão são caracterizadas por certa agressividade, os ânimos estarão acirrados pela disputa política que, afinal, é bem semelhante à que os EUA enfrentam desde Trump.

A favor da normalidade diplomática entre os dois países contam os atos corriqueiros que não sofreram interferência ou interrupção, como vimos na recente viagem de Michelle Bolsonaro de volta para o Brasil como uma cidadã comum, com visto obtido diretamente na embaixada em Brasília sem problemas. O próprio Bolsonaro preenche os requisitos para obter novo visto que lhe permita exercer atividades como palestras, debates etc. Tudo leva a crer que o governo Biden está preparado para contornar qualquer mal-estar diplomático que surja no horizonte.