Em entrevista exclusiva concedida ao nosso correspondente, jornalista Weliton Silva Barbosa (Aluno do Ensino Médio do  IFF/Campos dos Goytacazes), membros do Movimento Estudantil Norte Fluminense (MENF) falam de sua experiência e mandam um recado aos estudantes de todas as favelas e comunidades carentes da América Latina.

*Weliton Silva Barbosa

ANF- Quais são as principais dificuldades enfrentadas pela ocupação neste momento?

No momento, temos muitos problemas estruturais na casa. O teto, por exemplo, está danificado, provocando vários vazamentos e goteiras. Corremos o risco até de desabamento do gesso do teto da cozinha, que está quase caindo. Tivemos também, no início, problemas com a polícia. Um dia após ocuparmos a casa, em 26 de setembro, a polícia, junto com a guarda municipal, apareceu na ocupação para saber o que estava acontecendo. Nos preocupamos em garantir a legitimidade e a publicização de nossa ocupação, colocando faixas que pudessem retratar o que o movimento queria com a casa, que, até então desocupada, não cumpria nenhuma função social. Queríamos dar uma utilidade para a casa, o que começamos a fazer desde o início. Explicamos nossa proposta aos policiais, informando os nossos cinco objetivos prioritários: 1) Espaço para funcionamento de um pré-vestibular social, de responsabilidade do movimento estudantil; 2) Casa de passagem para os estudantes de outras cidades possam passar a noite, levando em conta que 70 por cento dos estudantes de Campos dos Goytacazes não moram na cidade; 3) Alojamento Estudantil; 4) Espaço cultural aberto para toda a comunidade, no qual serão oferecidos cursos, debates, oficinas e assim por diante; 4) Espaço para funcionamento de Centros Acadêmicos, no intuito de construir um movimento estudantil no Norte Fluminense que seja crítico, pró-positivo e que esteja interessado realmente em mudanças.

ANF- Quais são as organizações estudantis e políticas envolvidas na ocupação?

Nosso movimento se define como apartidário, mas jamais apolítico. Estamos cientes da importância política de nosso movimento, mas não levantamos bandeira de nenhum partido. Temos integrantes que participam de partidos diferentes, e isso é respeitado. Todos são livres para se vincular aos princípios e ideias que melhor lhes convém. Outros integrantes, por outro lado, são independentes. Sendo assim, nosso movimento não se vincula a nenhum partido e não apoia nenhum candidato, mas respeitamos a liberdade e a diversidade de opinião de nossos membros.

ANF – A ocupação já foi batizada com algum nome?

Ainda não temos um nome, mas costumamos chamar este espaço de Casarão. Outros chamam o espaço de Casarão Pré-colonial, pois nosso companheiro André nos advertiu que a construção possui em suas formas as características deste período arquitetônico. O Salgado, outro membro do movimento, costuma também chamar o espaço de Casa Mal Abandonada. Juntando tudo isso, muitos já chamam o espaço Casarão Pré-colonial Mal Abandonado, Casa do Estudante Campista e assim por diante.

ANF – O movimento possui algum blog para divulgar informes e acontecimentos?

Temos um blog em http://universitariosemmovimento.blogspot.com. Temos também um Twitter @me_nf.

ANF – Como funciona a distribuição de tarefas entre os ocupantes?

De início, começamos com um sistema de coordenação, no qual existiam coordenações responsáveis por atividades específicas e pela distribuição das tarefas, uma vez que todos os integrantes do movimento fazem de tudo um pouco. No momento, em virtude do aumento de participantes, estamos nos reorganizando. A casa possui um regimento interno, que foi votado e aprovado em assembleia. Nos organizamos a partir de coletivos, núcleos e assembleias. Funcionam aqui dez coletivos, dos quais destacamos: infraestrutura, alimentação (que estabelece as escalas da cozinha), coletivo de segurança (responsável pela vigilância e pelas rondas noturnas), coletivo de formação política, coletivo de cultura e assim por diante. Estes grupos determinam as tarefas a serem realizadas e as escalas. Temos as reuniões do coletivo e as reuniões do núcleo, que comporta três coletivos. Estes três coletivos, reunidos em um núcleo, discutem os problemas internos e externos da casa e levam as pautas para deliberação nas assembleias gerais. Um dos coletivos mais importantes é o de negociação externa, responsável pelas informações, articulações com movimentos sociais, etc. O coletivo de comunicação também é importante, pois é responsável pelo blog e pela divulgação de nossas atividades.

ANF – A ocupação promove assembleias, grupos de estudo e de discussão política entre os ocupantes?

Como já dissemos, nos organizamos em coletivos, núcleos e assembleias. O coletivo de formação política fica responsável pelos debates políticos, aberto também para os interessados de fora da casa. Temos também o coletivo cultural, que realiza uma agenda intensa de eventos.

ANF – Que mensagem os membros da ocupação gostariam de transmitir para os estudantes que não podem arcar com o custo de seus estudos?

Nosso movimento é composto por estudantes do IFF, da UENF e da UFF. Muitos destes estão já residindo na casa, não precisando assim gastar quantias exorbitantes com aluguel. Entendemos que Educação Pública é muito mais do que abrir uma sala de aula e colocar um professor lá dentro. Devem ser dadas estruturas e condições para que os estudantes terminem os seus cursos, incluindo não apenas alojamento, mas auxílio xerox, alimentação, saúde, etc. A mensagem que deixamos aos estudantes que não podem arcar com seus estudos é que se unam ao nosso movimento, ou criem outros movimentos pelo país afora, pois estudar com dignidade é um direito nosso.