Localizado na avenida Noel Nutels, no bairro Cidade Nova, em Manaus, o Terminal de Integração 3 é um dos mais movimentados por ser próximo ao shopping Sumaúma e dar acesso a diferentes estações da cidade.
O trajeto e, sobretudo, a sorte para quem desce no Terminal pode mudar, pois é nesse espaço que todos os dias jovens se encontram e planejam assaltos dentro dos ônibus.
São cerca de 30 mil passageiros por dia, que vão do norte ao sul da capital do Amazonas, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram), organização responsável pelo transporte coletivo da cidade de Manaus.
Uma vendedora informal com 13 anos de trabalho no Terminal 3, com 55 anos de idade, conta que o local é ponto de encontro entre os criminosos. “Todo dia eles chegam pensando em fazer coisa ruim. Tem uns que falam ‘bora trabalhar’, e a gente sabe que é para ir fazer assalto nos ônibus”.
Linhas de perigo do Terminal 3
Conhecidos por terem ônibus grandes e com os trajetos longos, as linhas 678 e 640 foram as mais assaltadas em 2022.
Apenas no 640, foram mais de 100 assaltos, entre janeiro e outubro, conforme dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram).
“Nem me surpreendo mais. Tem muito menino que está fazendo o bem, mas tem outros que já entram no ônibus pensando na maldade”, relata uma passageira.
85 latrocínios em dois anos em Manaus
Em novembro do ano passado, um passageiro foi morto durante um assalto dentro da linha 640. A vítima teria se negado entregar o celular para os criminosos e foi atacada com uma facada, segundo informações da Polícia Militar do Amazonas.
“As coisas continuam acontecendo, todos os dias eles estão prontos para entrar nos ônibus e assaltar. Já morreu gente por isso, entra governo e sai governo, mas nada muda”, conta uma passageira.
Na capital do Amazonas, de 2021 a 2022, foram 85 casos de latrocínio. Neste ano, foram registrados quatro casos de janeiro a março, segundo dados da Secretaria de Segurança do Estado do Amazonas (SSP-AM).
Ano passado, a cidade teve uma média de mais de cinco roubos por dia.
Insegurança em Manaus
Em 2022, o Governo do Estado implementou um reforço de policiamento para ajudar no combate aos furtos em ônibus e estações, mas para quem está no terminal, não teve tanto efeito.
“No terminal os assaltantes, me respeitam, uns até param para conversar. Quem trabalha aqui no T3 eles não assaltam ou brigam, fazem isso mesmo é dentro do ônibus. Mas, assim, a gente não confia. Tem a ronda do bairro que passa, mas não faz muita diferença”, relatou.
Planejamento?
Em nota, o Sinetram informou que planeja estratégias com a SSP-AM e está investindo em tecnologia para oferecer segurança no momento do pagamento da passagem.
Em 2022, o governo do Estado implementou um reforço de policiamento para ajudar no combate aos furtos em ônibus e estações, a Operação Cidade Mais Segura. As ações envolvem o patrulhamento ostensivo a pé e motorizado da Polícia Civil de Manaus.
“O Sinetram participa constantemente de reuniões para traçar estratégias junto a SSP-AM, contribuindo com dados de locais que mais apresentam assaltos na cidade. Além disso, também tem investido em tecnologia para oferecer à população opções de pagamento de passagem sem o uso de dinheiro vivo. Em cidades que praticamente extinguiram essa modalidade de pagamento, o número de assalto diminuiu em até cem por cento.”
Já a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semseg) alega que a falta de estrutura física é um dos problemas que afetam a segurança.
“A frequência de ambulantes não autorizados prejudica a segurança. Melhorando isso, é um começo. Temos a presença de guardas municipais em alguns terminais, e os que não tem a presença constante, recebem visitas diárias. Mas a segurança depende muito também da estrutura física dos terminais.”
Meios de transporte em Manaus
Os manauaras têm apenas o ônibus como transporte público para se locomover, contando com cinco terminais. A passagem a R$ 3,80 permite fazer apenas duas integrações no período de duas horas. Mas pode sair mais cara devido à falta de um bom planejamento de segurança pública.
As duas linhas mais assaltadas em 2022, a 640 e a 678, chamam atenção por serem ônibus articulados. O trajeto é de meia hora, passando pelo centro da cidade e bairros como Jorge Teixeira.
As linhas atravessam bairro periféricos: a 640, a comunidade Nossa Senhora de Fátima; a 678, o bairro Coroado, zona Leste de Manaus – esta é a única linha que tem uma delegacia no trajeto, o 14º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
Prejuízo de mais de R$ 300 mil
De noite, a situação piora. Com a pouca ou nenhuma iluminação em determinadas partes do Terminal 3, passageiros ficam inseguros. É o caso da professora de Filosofia Noemi Soares, 25 anos, que pega ônibus duas vezes por semana no horário de 6 e 14 horas
“Não me sinto segura em um lugar que até os fios já foram roubados. É escuro e mesmo com reformas ainda está com várias coisas quebradas e em desuso. Geralmente, não mexo no celular e coloco a mochila na frente, mas ainda tem o risco de furto quando entro no ônibus superlotado”, explica a professora.
Em 2022, o prejuízo com assaltos entre janeiro e novembro foi mais de R$ 300 mil, contando apenas com o dinheiro da passagem que estava com os cobradores e não incluindo os bens de passageiros, conforme dados do Sinetram.
Na visão do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Manaus (STTRM), um dos motivos para a vulnerabilidade dessas linhas é a quantidade de pessoas.
“Basicamente, o problema é principalmente por dois fatores: como essas linhas são longas, os assaltantes ficam de olho na arrecadação das passagens e, principalmente, na quantidade de celulares e objetos que podem ser levados dos usuários”.
Dados apontam crescimento de assalto em ônibus
A Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social (Semseg) afirma que os ambulantes não autorizados prejudicam a segurança, visto que não se pode controlar a entrada e saída de estranhos no Terminal 3.
“A frequência de ambulantes não autorizados prejudica a segurança. Quando digo ambulantes não autorizados me refiro a pessoas que entram no terminal e pegam ônibus para vender balas, não temos controle sobre isso”, informa a Semseg.
Desde 2014, os ambulantes que trabalham nos terminais da cidade podem ter carteirinhas de autorização da Prefeitura de Manaus e a Secretaria Municipal de Feiras, Mercados, Produção e Abastecimento (Sempab). Qualquer atividade econômica em logradouros públicos da cidade deve ser autorizada pela Prefeitura.
Segundo a Semsgeg, há a presença de guardas municipais em alguns terminais, e os que não tem a presença constante, recebem visitas diárias. Para Bernaderth, que tem autorização para trabalhar como ambulante no T3, os órgãos de segurança devem pensar em medidas para todos.
“Eu trabalho com autorização, venho faço o meu serviço tranquilamente. Agora, esses órgãos de segurança deveriam pensar em algo para verificar quem não é vendedor ambulante, porque as pessoas podem até se confundir”.
A equipe de reportagem entrou em contato com a SSP-AM e com a Polícia Militar do Estado solicitando informações sobre os reforços de segurança e sobre planejamento de segurança para os terminais da cidade, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
Elanny Vlaxio
@elannyvlaxio
Esta matéria foi produzida com apoio do Edital Google News Initiative.
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