A dona de casa Joseane Maria do Nascimento, de 58 anos, teve tuberculose duas vezes. A moradora do Alto Santa Isabel, periferia do Recife, localizada no bairro de Casa Amarela, tem um agravante para a tuberculose: ela é portadora de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que prejudica o sistema respiratório. Nas duas vezes que contraiu tuberculose, o tratamento gratuito foi feito no Sistema Único de Saúde (SUS).

Mesmo tendo parado de fumar há quase 30 anos, em 2012, adoeceu pela primeira vez de tuberculose. “Assim que recebi os resultados dos exames, fui encaminhada para fazer o tratamento no SUS. Foi um pouco difícil no começo, pela falta de informação, era complicado organizar a quantidade e horários dos remédios. Também tinha o medo de contagiar meus familiares que moravam comigo numa casa muito pequena”, conta.

Mesmo realizando o primeiro tratamento com êxito, em 2017 Joseane precisou combater novamente a tuberculose. “Da segunda vez que tive a doença, o tratamento foi mais tranquilo, porque já sabia como funcionava e já conhecia a eficácia”, explica.

Joseane Nascimento, dona de casa em Recife, curada da tuberculose duas vezes. FOTO: Suellen Barbosa/ANF

Preocupado com essa realidade, o Ministério da Saúde distribuiu, em parceria com a Agência de Notícias das Favelas (ANF), placas do Minidoor Social para conscientizar a população sobre o tratamento. Foram 125 minidoors sociais para informar sobre a importância do tratamento da tuberculose nas favelas do Rio de Janeiro e Recife.

Tuberculose no Recife

De acordo com levantamentos realizados pela Secretaria de Saúde do Recife, em 2022 a cidade atingiu um percentual de 118,1 de infectados para cada 100 mil habitantes. Foram identificados 1.962 novos casos de tuberculose, com mais da metade dos casos curados (57,5%).

Entre os territórios analisados, o Distrito Sanitário V, que agrupa os bairros predominantemente periféricos da zona Oeste do Recife, apresentaram o maior número em comparação aos outros, com 580 novos casos.

Os bairros que compuseram esse total são: Afogados, Bongi, Mangueira, Mustardinha, San Martin, Areias, Caçote, Estância, Jiquiá, Barro, Coqueiral, Curado, Jardim São Paulo, Sancho, Tejipió e Totó.

O bairro do Curado representa 265 casos deste total, quase metade.

Na zona Norte, menos casos de tuberculose

Em contrapartida, os bairros localizados na zona norte do Recife, somaram 87 novos casos da doença. Os bairros desta área foram Aflitos, Alto do Mandu, Apipucos, Casa Amarela, Casa Forte, Dois Irmãos, Espinheiro, Graças, Jaqueira, Monteiro, Parnamirim, Poço, Santana, Sítio dos Pintos e Tamarineira.

Casa Amarela somou 24 casos; Dois Irmãos, 10 casos – são dois territórios predominantemente periféricos, com histórico de ausência de políticas públicas estruturais.

Alto Santa Isabel, periferia do Recife: 24 casos de tuberculose em 2022. FOTO: Suellen Barbosa/ANF

Tratamento da tuberculose pelo SUS

O tratamento da tuberculose consiste na ingestão dos antibióticos prescritos pelo médico, com duração de seis meses a um ano, de acordo com o quadro de saúde do paciente. Diagnóstico e tratamento são oferecidos gratuitamente no sistema público de saúde.

Como aconteceu nas duas vezes em que adoeceu a recifense entrevistada nesta reportagem, Joseane Maria do Nascimento. Ela foi atendida na Policlínica Clementino Fraga, que fica no bairro do Vasco da Gama, zona norte do Recife.

Além desta unidade de saúde, a capital pernambucana conta com sete outras unidades de referência:

– Policlínicas Gouveia de Barros, na Boa Vista;

– Albert Sabin, na Tamarineira;

– Lessa de Andrade, na Madalena;

– Agamenon Magalhães, em Afogados;

Pina, no bairro de mesmo nome;

– Centro de Saúde Romildo Gomes, na Imbiribeira.

Tuberculose é uma doença infectocontagiosa, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que compromete quase sempre a funcionalidade dos pulmões, mas pode afetar outros órgãos.

A pessoa com tuberculose em estado ativo apresenta sintomas como tosse por mais de três semanas, dor no peito, fraqueza, perda considerável de peso, febre e suores noturnos. Ao tossir, cuspir ou espirrar, libera gotículas, através ar, podendo contaminar pessoas próximas. Apesar da facilidade de transmissão, a tuberculose tem tratamento e cura.

Cartaz da Campanha do Ministério da Saúde contra tuberculose, Meta é recuperar retrocesso recente

Estatísticas da tuberculose

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% dos casos e mortes por tuberculose ocorrem em países de baixa e média renda. Essa constatação não é diferente entre as regiões brasileiras.

Levantamentos realizados por governos estaduais, prefeituras e órgãos ligados ao assunto, concluem que pessoas moradoras de territórios periféricos são mais afetadas. Historicamente, a população que ocupa as favelas sofre com a falta ou dificuldade no acesso a políticas públicas básicas, como moradia digna, alimentação regular e saneamento básico, situação que favorece a proliferação de doenças, como a tuberculose.

Retrocesso recente no combate à tuberculose

O cenário de desigualdade social escancarado pela pandemia da Covid-19 sofreu uma série de aprofundamentos. Nos últimos quatro anos, o país esteve sob o comando de uma gestão governamental comprometida com o retrocesso também no que diz respeito ao combate à tuberculose.

Em setembro de 2019, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, por exemplo, constatou que o Governo Federal havia reduzido em quase 60% o repasse de medicamentos para o tratamento de tuberculose, provocando a falta e atrasos na aquisição e distribuição dos medicamentos.

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