Moradores da Vila Formosa, tanto da comunidade quanto integrantes de movimentos sociais, estão participando de oficinas de comunicação popular com foco na territorialidade e na distribuição de informação. A iniciativa é da União de Moradores e Trabalhadores (UMT), com apoio do Fórum de Reforma Urbana e a Habitat Brasil.
O objetivo é potencializar as vozes das periferias e fortalecer as lutas dos territórios. As oficinas buscam valorizar as vivências nos bairros e reforçar o sentimento de pertencimento às lutas sociais e à cidade. As atividades ocorrem na Vila Formosa, Sabará e Tatuquara, todas regiões de ocupação de moradia de Curitiba.
Três territórios, três décadas de ocupação
Pedro Carrano, coordenador da União de Moradores e Trabalhadores (UMT) explica a importância desses territórios para a defesa do direito à moradia. “Essas três ocupações, que não chegam a ser um bairro completo, mas que são importantes, são áreas de ocupação com mais de três décadas, na luta por moradia, e que até hoje não têm regularização fundiária”.
Ainda segundo ele, as três áreas não correm risco de despejo porque têm uma longa tradição. “Hoje, o movimento comunitário tenta ser resgatado com as associações de moradores”. Porém, nas áreas do Tatuquara, “é um um processo um pouco diferente porque são áreas recentes. Muitas das ocupações ocorreram na pandemia, na crise social. A comunicação se coloca ali de maneira muito viva”.
Isso significa que os moradores mantém diversos canais de comunicação, como grupos de WhatsApp. Daí surgiu o curso de comunicação, que potencializa possibilidades, como de denúncias. “O curso de comunicação pode atender a experiência urgente das comunidades, na denúncia, no envolvimento”, explica Carrano.
Metodologia popular e cheia de afetos
Com previsão de três oficinas em cada uma das três comunidades, somando nove encontros, as aulas são divididas em três módulos. A primeira é um mapa afetivo. Ele é uma forma de acessar os sentimentos dos moradores em relação ao território onde vivem.
“O processo começa com um levantamento individual ou coletivo de impressões, sentimentos, histórias, experiências pessoais, potenciais e fragilidades do território. Em seguida, essas indicações são representadas por desenhos, colagens, palavras saindo da percepção pessoal para ganhar uma dimensão pública”, explica Luzia Nunes, uma das facilitadoras do curso.
Ainda segundo ela, o mapa afetivo possibilita estabelecer reflexões coletivas sobre questões municipais que, antes, não podiam ser percebidas da mesma maneira e ao mesmo tempo por todos.
“Geralmente, parte-se do desenho do limite administrativo do município, em uma folha de papel ou mesmo no chão. Nele, os participantes desenham, escrevem ou simplesmente narram sentimentos, vivências e histórias relacionadas a pontos específicos do local”, afirma Luzia.
Segunda etapa foca em estratégias de comunicação
A segunda etapa consiste em técnicas de jornalismo popular e será ministrada pelo jornal Brasil de Fato Paraná, que durante a pandemia realizou um curso de comunicação popular na região.
Juliana de Souza, diretora da UMT responsável pela área de defesa de direitos, e moradora da Vila Formosa, recorda que, em 2020, em plena pandemia, o primeiro curso de comunicação popular aglutinou pessoas, fortaleceu a organização e é lembrado até hoje. Ela e sua filha participaram do primeiro curso de comunicação popular na associação de moradores da Vila Maria e Uberlândia.
“Este ano, vamos fazer na associação de moradores da Vila Formosa. Além de gratuito, traz para a comunidade a importância no acesso à comunicação com técnicas de rádio, mídias, textos. Cursos como esse nos ajudam a trabalhar com qualidade”, avalia Juliana de Souza.
Terceira etapa produz jornal mural
A terceira etapa é a finalização da atividade, unindo o mapeamentos de sentimentos e conhecimento do território às técnicas de comunicação popular. O objetivo é partilhar os conhecimentos, histórias e lutas do bairro em um jornal mural. Esse veículo é escolhido pela intervenção que pode causar.
“Colar o jornal mural na associação de moradores chama a atenção para as lutas que temos na Vila Formosa e como se sentem as pessoas que moram aqui”, relata Juliana Souza.
Nicolas Rian Melo de Souza, estudante do colégio Colégio Estadual Bandeirantes e integrante do grêmio estudantil, participou da oficina e destacou a importância da troca de experiencias de diferentes movimentos sociais, moradores e a comunidade .
“Uma coisa eu percebi: a gente pensa que o problema só acontece em tal bairro, mas quando a gente vai ver, vai trocando experiências, percebemos que são problemas comuns”, afirma o estudante.
Fortalecimento de experiências organizativas
Na avaliação de Pedro Carrano, responsável pela pasta de comunicação da UMT, há experiências importantes de cursos de comunicação entre os movimentos populares, o que fortalece as lutas e a organização das comunidades.
“A mídia está presente na vida e na mão das pessoas, a todo o momento. É parte da organização popular. Como aproveitar isso para envolver, gerar reflexão e pensar formas de fortalecer a luta nas periferias? Este é um dos sentidos do curso. A comunicação já está ali, cotidiana. O curso contribui na sistematização”, finaliza.
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