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A Região Sudeste, em pleno outono, tem sofrido com dias de intenso calor e o fenômeno afeta principalmente áreas desprotegidas de vegetação.

Estudo feito pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, com o apoio do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, identificou que bairros pobres podem registrar variações térmicas de até 10º celsius acima da média de regiões de melhor poder econômico.

A diferença ocorre devido a três fatores principais: alta concentração de concreto e asfalto, elementos que retém calor por longas horas, poluição atmosférica, que impede a dissipação de raios solares, e a escassez de vegetação. Locais com essas características são conhecidos como ilhas de calor.

Os males causados pela falta de vegetação não se limitam à elevação das temperaturas. As folhas das plantas liberam vapores de água que ajudam a regular os ciclos de chuva, enquanto suas raízes evitam alagamentos. Há também impacto direto à saúde, filtrando micropartículas poluentes, as árvores limpam o ar e previnem doenças respiratórias e cardiovasculares.

Privados desses benefícios, devido a falta de um planejamento urbano associado a estratégias de arborização, os moradores das periferias são os mais afetados pelas altas temperaturas, baixa qualidade do ar e desastres causados nos períodos de chuva.

Arborização e racismo ambiental

O conceito de racismo ambiental surge na década de 80 e explica as injustiças sociais que acometem minorias étnicas, devido à aceleração das mudanças climáticas e degradação do meio ambiente. Esse processo mostra que os impactos socioambientais não são iguais para todos. 

Conforme pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com o Data Favela e a Central Única das Favelas (Cufa), no Brasil, 67% dos moradores das favelas são negros. Isso comprova que, além de um problema social, a escassez de árvores em regiões pobres é uma das faces do racismo ambiental. 

Para minimizar os efeitos que as ilhas de calor têm sobre esses habitantes, é necessário implementar políticas públicas que combatam essas desigualdades sociais a curto e longo prazo. Segundo Marcos Buckeridge, professor titular do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), “Temos projetos muito bons que não vão para frente devido à dificuldade dos entraves políticos.”

Florestas urbanas

A falta de infraestrutura dos bairros periféricos não pode ser resolvida da noite para o dia, mas aumentar a quantidade de vegetação que circunda esses locais, é uma alternativa. Essa estratégia de arborização em cidades é denominada floresta urbana. Além de criar paisagens em meio ao concreto, ela minimiza os impactos das ilhas de calor.

Sua construção demanda o mapeamento dos espaços disponíveis para plantações associado a conhecimentos aprofundados sobre os diferentes biomas de cada região da cidade, para que sejam priorizadas árvores nativas que melhor se adequam ao clima e solo locais.

“Não existe bala de prata. Precisamos unir biologia, arquitetura, engenharia, e o poder publico”, conclui Buckeridge sobre o problema que afeta milhões de pessoas pelo país.