Bell Puã, “De família indígena paraibana, do Sertão do Cariri, fui criada no Litoral do Recife. Meu pai é aquela pessoa que chora ouvindo baião, que valoriza o interior do nosso estado. Aprendi muito com isso”. A pernambucana, que iniciou sua trajetória na Literatura, apresenta um projeto autoral que flerta com diversas camadas da música preta e popular, entre elas o Drill, BregaFunk, Love song e o Repente, o que torna a obra um marco na carreira da artista e da música nordestina.

A partir desta sexta-feira, 31 de maio, a nova produção da artista, a música “Jogo de Cintura”, estará disponível em todas as plataformas de streaming. No Youtube, o EP também ganha uma versão audiovisual com visualizers de cada música. Em “Jogo de Cintura”, Bell explora sonoridades e referências que expressam subjetividades de um ser em constante (re) evolução seja na sua relação com a arte, com a vida, família e amores.

Fazendo da arte um escape e refúgio para suas inquietações, nas seis faixas que integram o EP, a cantora busca reverberar para o público um lugar de acolhimento, um convite para a dança, para a leveza apesar das lutas e desafios diários, além de refletir sobre as pressões da sociedade da hiperprodutividade.

“O significado desse álbum pra mim é dizer que as coisas vão ser do meu jeito mesmo, do meu jeito mulher, do meu jeito intuitivo, negra carregando minha ancestralidade e a presença, as referências presentes, né? Aqui. Fisicamente também”, pontua Bell.

Sempre conectada com a Literatura, a obra,  cuja produção musical é da dupla  Marley no Beat e Tom BC, apresenta um interlúdio poético que referencia personalidades como Lélia Gonzalez, Racionais, Maxwell Alexandre, Biel Xcamoso e também o movimento Bregafunk: 

“Não tem como crescer no Recife e não ser tomada por esse ritmo. Acho que precisamos sempre colocar o Bregafunk no lugar de reverência e intelectualidade”, comenta a cantora.

Amante da cultura do grafite, do cuidado com os animais e historiadora por formação, Bell Puã foi criada no litoral de Recife e atribui à influência do pai sua paixão por  Pernambuco e toda sua diversidade por meio da arte.

Sobre as faixas do EP “Jogo de Cintura “Na música “Estado das Maravilhas”, feat com a cantora Jéssica Caitano, Bell Puã buscou justamente ressaltar a força das raízes territoriais nordestinas através da poesia: “O rap com repente ou Rap Repente como ela chama, tem uma ótima sonoridade. Então pensei na Jéssica para trazer elementos do Sertão, do coco e dar um flow metralhado. Achei que fazia muito sentido essa junção. Além da admiração que tenho por ela.” “Dia de folga”, canção Love Song do disco, fala das coisas ordinárias mas que, com a correria do dia a dia, acabam negligenciadas.

“Ter um dia de descanso é uma coisa muito cara, preciosa e que não tem a ver necessariamente com dinheiro. É sobre você saber curtir seu tempo livre com a pessoa amada. Essa música fala de uma sintonia, uma conexão com a pessoa que está vivendo aquele momento de folga, pontua Bell Puã. 

Uma das faixas mais ousadas do EP, “Naqueles pique”, nasceu de uma referência ao rapper americano Tyler, The Creator: “ É uma expressão que a gente usa muito, né? Pegamos uma referência de pandeiro com sintetizadores e, no beat, um órgão tocando de fundo. Já na segunda parte tem uma mudança. É como se tivesse duas músicas em uma só. Foi ousado mesmo mas funcionou”, acredita a compositora. 

Para Bell, todas as canções do EP são suas preferidas, mas ela destaca “Cigana Drill” e “Passa Nada”, primeiro single lançado, como músicas que, para ela, atingiram um nível muito satisfatório. “Gosto muito de ‘Passa Nada’, principalmente do refrão, de poder dizer que, de passinho em passinho, nós chegamos porque em passos pequenos a gente também consegue chegar em lugares grandes”, afirma.

Já em “Cigana Driil”, ela aborda questões de gênero que sempre marcaram suas linhas, seja na poesia ou na música. “Para mim, Jogo de Cintura é sobre jogar com o capitalismo, jogar com a xenofobia, com o racismo, o machismo. São tantos homens que são tão bons rimando, mas são tão ruins pras suas mulheres”.

No dia 11 de julho, a cantora apresenta um inédito do EP no Teatro do Parque, quando participa do projeto “O Eixo é nós”.

O projeto, que tem a concepção artística assinada por ela em parceria com sua produtora, Bola1Prod, contou com aporte financeiro do Fundo de Incentivo à Cultura do Governo do Estado.