No último dia 13 de outubro de 2024, o grupo de arte popular A Pombagem comemorou seus 15 anos de atividades com uma programação repleta de arte, memória e resistência cultural. Nascida da união entre o teatro de Uilton Oliveira, a poesia de Patric Adler e a música de Fabricio Britto, a trupe consolidou-se como um ícone das manifestações culturais de Salvador, especialmente nos subúrbios, onde suas apresentações conectam arte e conscientização política com a realidade das ruas.

O grupo atua não apenas no coletivo Arte Marginal Salvador, mas também participa de outras ações comunitárias, sempre reforçando sua autonomia e expandindo o alcance de sua mensagem artística e social. Em 15 anos, A Pombagem conquistou um espaço singular no cenário artístico da cidade, levando suas performances a ruas, praças e monumentos, tornando a arte acessível e viva.

A Pombagem é composta por vários artistas, como: Fabrício Brito Abdon Griffo, Bárbara Ariel, Candace, Juliana Fonseca, Davi Mariston, Carol Caracol, Rafael Cazais, Jorge Malabares, Buzzy, Noite, Celeste Costa, Umberto Cruz, Silas Arte de Rua, Milica San, Aylla Campos, Darlan Sacramento, Edson Junior, Maktub Maddox, Fabricia Rios, MC Gringo, MC Giroso, Jansen Nascimento, Manuela Ribeiro, Leila Kíssia, Bia Gigante, Ludmila Singa, Veko Araújo, Meri Araújo (Rainha), Janete Brito (Musa da Guiné), Vanusa Flor, Fabricio Brito, Isis Valentini, Tâmara Coral, Kinho Gonçalves, Luana Gomes, Raíssa Araújo, Marie Thauront, Vanessa Marins, Boob, Jéssica Malabares.

O Museu é a Rua: Arte e Memória no Espaço Público

Um dos projetos mais marcantes da trupe é o espetáculo “O Museu é a Rua”, que transforma o espaço público em uma galeria a céu aberto. Nessa proposta, monumentos e ruas de Salvador ganham uma nova vida, virando palcos de intervenções artísticas, em que o público é convidado a interagir com a história viva da cidade. Além do espetáculo, a proposta inclui fotografias que retratam o patrimônio cultural soteropolitano, reforçando a rua como um espaço de comunicação, memória e ressignificação das práticas culturais.

Para A Pombagem, a rua é o verdadeiro museu do povo. Um museu desterritorializado, em constante transformação, que acolhe diversas formas de arte pública e promove o contato direto entre a população e suas raízes culturais. “O museu, mais que tudo, é um lugar de memória, e nós reivindicamos esse museu que dança, canta e está com a população”, diz Fabricio Britto, coordenador do grupo.

Pombagem: Resistência e Sabedoria das Ruas

As manifestações populares, assim como a própria “pombagem” — termo que inspira o nome da trupe —, são uma expressão de resistência irreverente. A “arte de pombar”, que pode parecer desprezo ou descaso aos olhos desavisados, é, na verdade, uma resposta sagaz e bem-humorada às adversidades sociais e políticas. É uma forma de viver a cultura nas ruas, desafiando as normas estabelecidas e celebrando a identidade do povo através da arte.

Da mesma forma, o trabalho da trupe nos subúrbios de Salvador vai além do entretenimento: é uma ferramenta de conscientização política e formação artística. Conhecendo profundamente a linguagem das ruas, A Pombagem compõe diálogos que tocam em questões essenciais, colaborando para o esclarecimento e a reparação de problemas sociais enfrentados pelas comunidades.

Viva o Museu Popular: Arte Fora das Instituições

Em mais um esforço para democratizar a cultura, o projeto Viva o Museu Popular se propõe a mostrar que o museu não precisa ser um espaço físico limitado. A ideia de museu, como destaca Britto, já foi um conjunto de poetas conclamando a memória de um povo. Assim, A Pombagem se empenha em quebrar as barreiras que separam os museus convencionais da sociedade, propondo uma experiência museológica fluida, onde o patrimônio cultural é experimentado diretamente nas ruas e praças.

“O museu não é só um lugar de armazenamento de objetos antigos, mas um espaço de aprendizado, onde a memória popular se mantém viva e dinâmica”, ressalta Britto. Com espetáculos, rodas de conversa e intervenções artísticas em monumentos históricos, A Pombagem tem levado o povo soteropolitano a uma nova forma de viver a sua história, integrando a arte à vida cotidiana da cidade.

Um Legado de Resistência

Nesses 15 anos, A Pombagem construiu um legado que vai muito além das performances artísticas. O grupo se tornou um símbolo de resistência cultural, levando às ruas de Salvador uma arte que reflete as lutas, conquistas e memórias de seu povo. Na comemoração deste marco, A Pombagem reafirma sua missão de continuar “pombando” pelos próximos anos, com humor, crítica e, acima de tudo, amor à cultura popular.

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Valdeck Almeida de Jesus
Valdeck Almeida de Jesus é jornalista definido após várias tentativas em outros cursos, atua como free lancer, reconhecendo-se como tal há bastante tempo. Natural de Jequié-BA (1966), e escreve poesia desde os 12, sendo este o encontro com o mundo sem regras. Sua escrita tem como temática principal a denúncia: política, de gênero, de raça, de condição social, de preconceitos diversos: machismo, homofobia, racismo, misoginia. Coordena o movimento “Galinha pulando”, o qual pode ser visto no blog, no site e nas publicações impressas. Este movimento promove anualmente um concurso literário, aberto a escritores(as) do Brasil e do exterior. A poesia lhe trouxe o encantamento, mundos paralelos, as trocas, a autocrítica, a projeção de si e de outro(s), maior consciência de classe e de coletivo. Espera que as sementes plantadas se tornem árvores, florescendo e frutificando em solos assaz diversos. Possui 23 livros autorais e participa de 152 antologias. Tem textos publicados em espanhol, italiano, inglês, alemão, holandês e francês. Participa de vários coletivos da periferia de várias cidades, bem como de algumas academias culturais e literárias.