Brasil sem Feminicídio, Brasil Terra Indígena, A Educação é revolucionária, Demarcação já, Migrantes e refugiados, Direitos reprodutivos das mulheres são algumas das pautas sociais que inspiram a produção artesanal do Coletivo Linhas da Resistência. Uma forma criativa de protesto social e militância política marca a presença do grupo (@linhasdaresistencia) na cena urbana da capital federal. Composto por maioria de mulheres de diferentes idades e profissões, o grupo borda mantos -como são chamados os painéis em tecido colorido- a partir de temas escolhidos conjuntamente, relacionados a bandeiras de luta de movimentos sociais, ou para campanhas de preservação ambiental e em defesa de direitos humanos.
As peças são expostas em um varal em parques e feiras, ou em manifestações públicas como passeatas de rua, ou instituições públicas como o Congresso Nacional. Para dar mais visibilidade ao conteúdo das mensagens as bordadeiras e bordadeiros “vestem” seus corpos com os mantos durante as marchas, que facilita o deslocamento durante os atos.
Crédito: Claudia Correia
Marisa Isar, que integra o coletivo, reconhece a importância de explorar temas que precisam ser evidenciados, como o machismo e esclarece que a escolha dos temas é feita em grupo ou por alguns membros. “São questões que nos angustiam ou estão na pauta da sociedade e precisamos naquele momento lutar em defesa de algum direito, como a mobilização contra o Projeto de Lei 1904 sobre o aborto’, afirmou.
Para marcar o Dia Internacional da Mulher- 8 de março, um dos mantos produzidos, intitulado “Elas nas linhas da resistência” resgatou imagens e textos sobre personagens femininas que foram apagadas da história ou não têm muita visibilidade como Elza Soares, Cora Coralina, Laudelina de Campos Melo, Pagu, Dandara de Palmares, Nise da Silveira, Tarsila do Amaral, Carolina de Jesus.
Crédito: Claudia Correia
Todos os sábados até às 13h, as bordadeiras se reúnem embaixo das árvores na Quadra 216, Asa Norte, em Brasília, onde acontece a Feira Agroecológica da Ponta Norte. Sentadas em um círculo de cadeiras confeccionam bottons para distribuição com “palavras de ordem” como: “Demarcação já!”, “O marco é ancestral”, “O Parque das Garças é do povo”. Junto com as peças para usarem nas atividades políticas, elas também tecem fortes laços de amizade solidária e trocam informações sobre o contexto político nacional e mundial e sobre a vida cotidiana.
Histórico e articulação nacional
O coletivo foi formado em abril de 2022, durante o período das eleições presidenciais no país e foi crescendo, atraindo mais participantes e aliados, que se cotizam para a compra de linhas e tecidos ou fazem doação de material. Além das atividades de corte, costura e bordado, o grupo pesquisa fotos e imagens para reprodução de forma artesanal, faz rodas de diálogo e confraternizações, fortalecendo o convívio comunitário.
Crédito: Claudia Correia
“Formamos um grupo para bordar a democracia, um grupo de mulheres que precisava fazer alguma coisa naquela época, foi motivando, uma foi chamando a outra. Foi a angústia que mora dentro de nós que nos moveu. A democracia continua sendo ameaçada todo santo dia, o trabalho não para o grupo só aumenta, isso é o que nos move”, ressaltou com entusiasmo Shirley Altoé.
Crédito: Claudia Correia
O nome do Coletivo Linhas da Resistência foi baseado em outros grupos com propostas semelhantes que se espalharam pelo Brasil como: @linhasdohorizonte em Belo Horizonte-MG; @linhasdesampa e @linhasdesantos em São Paulo. O Coletivo Flores pela Democracia-DF, desdobrado do original que atuou na vigília em Curitiba durante a prisão do Presidente Lula, é um parceiro do Coletivo Linhas da Resistência e faz flores em papel crepom que levam o lema “Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e Pelo Bem Viver”.
A articulação nacional entre os grupos acontece também através da troca de experiências nas redes sociais. “Com o instagram a gente foi encontrando novos grupos no Brasil inteiro, combinamos as pautas políticas, os coletivos que quiserem bordam uma pauta junto para apoiar um determinado grupo. Aqui na cidade somos chamadas para participar, como a luta em defesa do Parque das Garças, e as campanhas “Glauber fica” no Congresso Nacional e contra o Marco Temporal para as terras indígenas”, destacou Bia Dignart.
Crédito: Claudia Correia