O mito da democracia racial no Brasil é uma das maiores fraudes ideológicas que já se construiu para esconder as marcas profundas da opressão e do racismo. É uma narrativa conveniente, criada para enganar, para mascarar, para negar uma realidade clara: que o racismo é uma estrutura viva e atuante que permeia cada camada da nossa sociedade. É uma mentira conveniente para aqueles que se beneficiam de um sistema de desigualdade, um sistema que explora e marginaliza as populações negras e indígenas enquanto promove uma falsa imagem de harmonia racial.
A verdade é que o Brasil, desde sua formação, foi alicerçado na exploração e desumanização dos povos africanos escravizados e das populações indígenas. Durante mais de três séculos, o país se construiu sobre as costas e o sangue de homens, mulheres e crianças negras, arrancadas de suas terras, obrigadas a trabalhar sem qualquer direito, sem qualquer respeito. A abolição da escravidão, em 1888, foi um avanço, mas veio sem qualquer reparação, sem inclusão, sem garantir à população negra o acesso à terra, a oportunidades, a direitos básicos. E, após a abolição, o Estado brasileiro nada fez para “integrar” essa população à sociedade, perpetuando, de forma perversa, a exclusão e a pobreza que ainda hoje recaem, em sua maioria, sobre os descendentes dos escravizados.
Hoje, o mito da democracia racial serve para deslegitimar as lutas contra o racismo, para silenciar as vozes que exigem reparação, reconhecimento e dignidade. Esse mito ignora que negros e indígenas têm, sistematicamente, menos acesso à educação de qualidade, à saúde, ao mercado de trabalho digno, à segurança. As estatísticas são contundentes: as populações negras e indígenas são as que mais sofrem com a violência policial, com o encarceramento em massa, com a precariedade dos serviços públicos e com a informalidade do trabalho. São eles, os herdeiros do sistema escravista, que ainda enfrentam as piores condições de vida, enquanto a elite se recusa a reconhecer o peso de sua responsabilidade histórica.
O racismo no Brasil não é um de pessoas que “não sabem se comportar”. Ele é estrutural. Ele molda as oportunidades, as políticas públicas, os espaços de poder. E, enquanto o mito da democracia racial for mantido, as estruturas de privilégio e opressão continuarão a se perpetuar, mantendo as desigualdades que impedem a verdadeira emancipação do povo brasileiro.
Se queremos realmente transformar o Brasil, precisamos desmantelar essa farsa e encarar a realidade de frente. É preciso reconhecer o racismo, enfrentá-lo com políticas concretas e garantir que as vozes das populações negras e indígenas sejam respeitadas e ouvidas. Somente quando abandonarmos essa mentira e lutarmos por uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva poderemos falar de uma democracia real. Até lá, a luta contra o racismo é uma luta de todos os que sonham com um Brasil verdadeiramente livre e igualitário.