“A gente está na luta se nosso corpo está em luta”.
Esse alerta da historiadora e capoeirista Rosângela Araújo, a Mestra Janja, inspirou a ação “Capoeiragem e Roda de conversa pela segurança das mulheres em todos os lugares”, realizada no último domingo (15), no quiosque do Parque Ecológico Olhos D’Agua, Asa Norte, em Brasília. A iniciativa partiu de coletivos de capoeira como uma forma de expressar indignação e dialogar sobre práticas coletivas e estratégias de enfrentamento à violência contra as mulheres.

Para as organizadoras, a intenção foi usar a capoeira, de forma lúdica, para chamar atenção do público para o direito das mulheres de ir e vir com segurança, de ter acesso ao lazer e à cultura, e às áreas públicas da cidade.

As representantes dos coletivos Nzinga (@nzingadf), Beribazu (@ccberibazu) e Formigueiro (@formigueirodeangola), abriram o evento com a confecção de cartazes com palavras de ordem: “A vida das mulheres importa”, “O corpo das mulheres não é objeto para uso. Respeito!”, “Parque seguro para as mulheres”, que foram fixados no quiosque do parque. 

Crédito: Claudia Correia

Na tarde do dia 6 de dezembro, uma mulher sofreu uma tentativa de estupro enquanto caminhava na área do parque, reagiu gritando e o agressor fugiu. O Parque Ecológico Olhos D’agua, foi criado pela Lei 556 de 07/10/93 e conta com 28 hectares dentro da área que compreende as SQN 413 e 414 e SCLN 414 e 415.

O local dispõe de pistas de caminhada, tendas de massagem, academia ao ar livre, quiosque, banheiros e espaço para leitura, onde acontecem rodas de choro, aulas de capoeira, yoga, dança circular e outras atividades socioculturais para a comunidade. Frequentadores, moradores e grupos que promovem ações socioeducativas no local reivindicam do Instituto Brasília Ambiental-Ibram, o monitoramento de segurança motorizada, iluminação, câmeras e a apuração do crime. 

Camila Tenório, ativista do movimento feminista e Rita Freire, do Coletivo de Bordadeiras Linhas da Resistência, prestaram apoio às entidades organizadoras do ato e participaram da banda musical, da roda de capoeira e da oficina de cartazes. Elas defenderam a união dos grupos de mulheres de Brasília para fortalecer o combate à todas as formas de violência de gênero e o direito à cidade.  

Crédito: Claudia Correia

Integração entre gerações

O evento reuniu frequentadores do parque, crianças, idosos, famílias e entidades sociais para rodas e brincadeiras, acompanhadas de uma banda. O repertório musical e as dinâmicas corporais apresentados, são baseados na tradição popular, difundida por mestres populares como o músico maranhense Tião Carvalho, mestre do grupo de capoeira Nzinga, São Paulo. Ele é fundador e diretor do Grupo Cupuaçu Danças Brasileiras (@grupocupu) e propaga há mais de 40 anos, a cultura popular brasileira através de apresentações, oficinas e diálogos.

Mulheres de todas as idades e crianças jogaram capoeira e ouviram os depoimentos sobre a luta em defesa dos direitos das mulheres e por melhorias nas condições de conservação para o uso seguro do parque. As crianças tiveram oportunidade de se expressar de forma lúdica e aprender sobre a cultura da capoeira nas rodas conduzidas pelas facilitadoras dos grupos promotores do encontro. 

Crédito: Claudia Correia

Kharin Teixeira, moradora da região e frequentadora do parque, membro do Grupo Nzinga, desenvolve projetos de capoeira há um ano e integra um dos coletivos de mulheres que pratica e difunde essa tradicional expressão cultural. “Nós conquistamos essa prática, o direito ao acesso às áreas públicas, poder circular, esse episódio violento ocorrido no parque me afetou, afetou todas nós, queremos transformar o que aconteceu numa oportunidade para entender a força que tem a união das mulheres, tendo a capoeira como uma ferramenta”, afirmou. Para ela o objetivo do encontro foi dialogar com a comunidade local sobre o que representa ser mulher em espaços públicos, na sociedade, em ambientes de preservação ambiental da cidade para manter uma vida sustentável.