Nesta quarta-feira (8), data que marca dois anos da invasão da sede dos Três Poderes, foi realizada a “cerimônia em defesa da Democracia”, no Palácio do Planalto, em Brasília. O evento, coordenado pelo presidente Lula, reuniu ministros, parlamentares, comandantes das Forças Armadas e representantes do Judiciário. O presidente do Supremo Tribunal Federal -STF Luís Roberto Barroso, afirmou em nota lida pelo ministro Edson Fachin, que “os atentados de 8 de janeiro forma a face visível de um movimento subterrâneo que articulava um golpe de Estado, foi a manifestação de um triste sentimento antidemocrático, agravado pela intolerância e pela agressividade”.


Após a solenidade, o presidente Lula desceu a rampa do palácio até a Praça dos Três Poderes para participar do abraço simbólico, com a presença de cerca de cinco mil pessoas. No centro da praça a palavra “Democracia” foi escrita com vasos de flores amarelas que ao final do ato foram distribuídos com o público. Representantes de movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, coletivos de mulheres, indígenas e trabalhadores participaram da manifestação com faixas e palavras de ordem como “Sem Anistia” e “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.


Crédito: Claudia Correia

A trabalhadora rural Raimunda Sabino, do assentamento São Francisco, do Movimento dos Trabalhadores sem Terra-MST, no município de Formosa- Goiás, chegou cedo para o ato, em um ônibus com 42 pessoas. “Vou levar as flores da Democracia para plantar no nosso assentamento, cuidar bem delas, como temos de cuidar de nossos direitos à terra”, afirmou. Maria Regina Santos, do MST de Brazlândia, Região Administrativa do Distrito Federal- DF, também destacou a luta pela terra e lembrou que o movimento espera um encontro com o presidente Lula para apresentar suas demandas.


Crédito: Claudia Correia

Muitas bandeiras de luta foram levadas para o ato, expressas em faixas e camisas. O Comitê de Lutas de Samambaia, do DF, criado no período eleitoral em apoio à candidatura de Lula, levou uma grande caravana e expôs a faixa “Pelo fim das emendas parlamentares. Orçamento Participativo Já!”. “Hoje lutamos contra o Orçamento secreto e pelo fim das emendas parlamentares que só atrapalham, queremos a participação popular”, afirmou a radialista Dória Freitas, membro do comitê, acompanhada de Rafael Santana, Francisco Índio
e outros integrantes do coletivo.


Marilza Barbosa, do Coletivo Linhas da Resistência, grupo de bordadeiras de Brasília que produz peças com temas em defesa dos direitos humanos, chamou atenção para as lutas contra o fascismo no país. “A gente precisa continuar a resistência contra o fascismo, lutando pela nossa Democracia, pela Justiça, não podíamos faltar, vemos aqui essa multidão de brasileiros que está conosco pela permanência na nossa Democracia”, informou.


Resgate da memória
Além de ativistas de movimentos sociais, participaram do ato em defesa da Democracia servidores públicos, professores, estudantes, indígenas, lideranças quilombolas e parlamentares como a deputada federal Benedita da Silva (PT- RJ), a ministra Marina Silva e o ator José de Abreu. O professor aposentado de Direito da Universidade de Brasília-UnB, José Geraldo de Sousa Junior, ex Reitor da UnB, destacou a importância do ato para o resgate da memória e da história política nacional. “O que caracteriza a Justiça de Transição é redemocratizar, reparar as violações de direitos, responsabilizar os perpetuadores das violências, dos crimes de lesa humanidade, é prevenir, é a não repetição, o “nunca mais”.

No Brasil, por conta do colonialismo, fizemos as transições escondendo essas responsabilidades, as anistias. É preciso vivenciar num ato como esse, a memória política da luta pela Democracia, do sacrifício dos que deram sua vida, das suas condições de existência para que nunca mais aconteça. É bom ver a praça tomada pelo povo”, declarou emocionado.


Crédito: Claudia Correia

Ele ressaltou que a massiva presença popular na manifestação serve para afirmar para o presidente Lula que não cabe anistia para os manifestantes que em 2023 atentaram contra a Democracia e contra o patrimônio público. “O presidente desceu a rampa e nos viu, ele está sendo contido, imobilizado por uma reação que também é cúmplice desse processo. Anistia é para aqueles que lutaram pela Democracia, não é para retirar, esconder, ocultar os crimes praticados contra ela”, completou.