Depois de circular por diversas escolas da Rede Municipal no entorno de Manguinhos em 2012, a Exposição Manguinhos: Território em Transe, iniciou mais uma etapa em 2013: Mantém a itinerância nas escolas com o retorno do que fora construido no ano anterior e vai às ruas da favela devolver à população o conhecimento produzido a partir de uma pesquisa historiográfica que contou diretamente com a contribuição d@s morador@s.
Renata Mello do Ecomuseu de Manguinhos, minha querida amiga de trabalho relatou com excelência o dia do Grande Evento que aconteceu graças à parceria entre o Ecomuseu de Manguinhos, a ANF, a Capela São Daniel e os compas da música de resistencia Johnny, Us NEguin QNC Kala e da Apafunk.
@s querid@s companheir@s de luta: Obrigada pelo apoio.
Por Renata Mello:
Nada de museus ou curadores. No último sábado, 27/04, “A exposição tá na rua” fez dos becos e vielas de Manguinhos o palco para diversas atividades culturais: música, exposições, filmes. Fruto da iniciativa do Manguinhos Território em Transe, parte do Ecomuseu de Manguinhos, o evento teve como objetivo ocupar as ruas e debater a garantia de direitos na favela a partir da arte. “A gente tá aqui para contar a nossa história que UPP e remoção nenhuma vão apagar”, afirmou a moradora Monique Cruz, umas das organizadoras da atividade.
A história a qual se refere Monique é materializada pela imagens, mapas e inúmeros registros da itinerante Manguinhos: Território em Transe que atraiu olhares curiosos e atentos dos transeuntes nos arredores do Centro de Atividades Capela São Daniel. Fruto de uma pesquisa realizada em 2011 com a participação direta da população, a exposição conta a história de Manguinhos sob a perspectiva das lutas políticas ocorridas no território buscando garantir um lugar de protagonismo aos moradores do local.
– Parecia que ter uma história era privilégio de uma alta cultura, de um país, de um lugar distante e, para os moradores, imaginar que o lugar onde eles vivem tem uma história dá uma legitimidade ao território. Acreditamos que esse é um estímulo para uma relação mais direta entre a história e a vida, muito mais do que eles estão acostumados no estudo da história tradicional, acredita o historiador do projeto e pesquisador da Cooperação Social da Fiocruz, Daniel Pinha.
Outra exposição que chamou atenção foi o trabalho de Wendel, estudante egresso do Peja (Programa de Educação de Jovens e Adultos) de Manguinhos. Inspiradas por fotógrafos como Sebastião Salgado e João Roberto Ripper, as imagens em preto e branco despertaram o interesse especial das crianças que se amontoavam para ver de perto os retratos pendurados num varal improvisado lembrando os tradicionais cordéis. A mostra visa, segundo o artista, “retratar parte do cotidiano de Manguinhos”.
A música ficou por conta do rap do Us neguim q não c cala, Base D Criação, Na Humilde Produz, Apafunk, Pinah ZS, Johnny Julião, funk do Mano Teko, entre outros. Bonés, bermudas e blusas largas, letras diretas, gestos expansivos. Num ritmo bem marcado e expressões de revolta, com eles não há meias palavras. Os atos de cantar e falar quase que se confundem. “Favela é favela, neguim. A Rua não esconde, fala a verdade…” “Me deram uma pistola ao invés de um caderno”, cantou Pinar. Não demorou muito para criar-se ali uma roda de dança. De quadradinho ao passinho, o som vibrante contaminou a todos.
O evento se encerrou com o cair da noite, pessoas sentadas nas calçadas, atentas ao vídeo projetado num muro de onde saltavam algumas pixações. “Levante sua voz” era o filme que debatia nada menos do que o direito à comunicação. “Comunicação não é só assistir novela, é também o nosso direito de falar”, provocou Monique garantindo que outros eventos como esse virão: “Esse foi o primeiro de muitos passos a serem dados na manutenção da nossa memória e do reconhecimento de nossas Lutas. Manguinhos resiste!”
Manguinhos: Território em Transe é um projeto da Oscip Uadema (Unidade Ativista Defensora do Meio Ambiente) e do Ecomuseu de Manguinhos, coletivo de mobilização do território que se propõe a pensar a cultura em Manguinhos a partir de práticas da comunicação. O projeto conta também com convênio da Coordenadoria de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz.