Antes, a favela era ignorada; hoje, virou moda. O que antes era rejeitado agora é explorado comercialmente. O nome “favela” se tornou lucrativo, apropriado por políticos, artistas e marcas que buscam validar-se através de uma relação superficial com essas comunidades. Políticos aparecem em tempos eleitorais, ONGs surgem prometendo soluções, mas poucos realmente ouvem os moradores. As propostas muitas vezes não saem das próprias favelas, resultando em projetos que falham em atender às reais necessidades da população.
As favelas brasileiras sempre foram o reflexo da resistência e da criatividade do povo. Durante décadas, foram vistas como o problema da sociedade, associadas à pobreza e à marginalização. O discurso político de levar “dignidade” às favelas muitas vezes encobriu tentativas de apagamento dessas comunidades. No entanto, as favelas resistiram e transformaram-se em verdadeiros centros culturais, influenciando a música, o futebol, a arte e a comédia. A malandragem, tão cantada por Bezerra da Silva, Dicró e Zeca Pagodinho, saiu dos morros para ganhar o Brasil.
Nos anos 70, 80 e 90, a violência tomou conta das favelas, especialmente no Rio de Janeiro, e o estigma se fortaleceu. A capoeira, por exemplo, que era prática comum nos morros, perdeu espaço. A cultura favelada foi apropriada pelo “asfalto”, que levou suas expressões e ideias, deixando para trás as dificuldades que as comunidades enfrentam diariamente.
Os recursos já vem carimbado por um marketing , ou outras ações que vão favorecer a entidade e não a favela ! percebendo isso a favela já não participa mais dessas propostas pois ela sabe que o projeto vai beneficiar pessoas e não ela a Favela.
A favela não precisa ser usada. Precisa ser respeitada. Se um projeto é para a favela, deve ser criado e conduzido por quem vive nela, por quem sente na pele os desafios do dia a dia, para quem pisa nos becos e nas vielas , não em escritórios preparados para venderem sonhos e não realidade. O Brasil tem uma dívida histórica com essas comunidades e, enquanto essa realidade for ignorada, os problemas continuarão. O futuro das favelas deve ser decidido por aqueles que conhecem cada viela, cada beco, cada história. Só assim, as soluções serão verdadeiramente justas e efetivas.
DADOS PARA REFLEXÃO:
- O Brasil tem mais de 13 milhões de pessoas vivendo em favelas (IBGE, 2022).
- A economia das favelas movimenta cerca de R$ 170 bilhões por ano (Data Favela, 2021).
- 70% dos moradores de favelas pertencem à classe C, mostrando seu potencial de consumo.
- Apesar das dificuldades, as favelas são celeiros de inovação, cultura e resistência.
- Infelizmente, muitos enxergam apenas os números e não a real necessidade da favela. Estatísticas impressionam, mas a falta de saneamento, educação de qualidade e segurança continua a ser ignorada por aqueles que poderiam promover mudanças reais.