Está selada a paz na área nobre carioca e no coração do tráfico. Resta por último acabar com a mente do tráfico. A sociedade civil fluminense, assistiu antes do que se imaginava, a ocupação por variadas corporações civis e militares e das forças armadas no Complexo do Alemão, local conhecido anteriormente como serra da misericórdia. De acordo com o pensamento acadêmico, a criminalização da pobreza é uma artimanha para por em choque a ponta do poder público, os policiais, e a ponta do poder paralelo, os traficantes; onde o alvo da “bala perdida” são os moradores dessas comunidades carentes que estão no meio dessa “Guerra Particular” como conceituou o ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel, hoje sociólogo.

Esse conflito poderia ter aumentado quando as duas facções historicamente rivais aderiram à unidade em nome do bem maior após 12 anos de dissidência.  Em carta de Fernandinho Beira- Mar a ordem era para os traficantes  se unirem com os grupos paramilitares contras as ocupações das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPS) nas comunidades. E as comunidades ou bairros suburbanos acabam sendo o lugar de origem para as mesmas pessoas que optam serem policiais, traficantes ou milicianos só mudando a formação. Mas o poder paralelo acabou recuando.

A Scuderie Lecoq foi uma organização surgida no final da década de 60, liderada pelos integrantes dos “Doze Homens de Ouro” da Polícia carioca que eliminava os bandidos comuns, não os subversivos, e se serviu de inspiração para o Esquadrão da Morte famosa tropa conhecida por “limpar” da cidade o banditismo das favelas.

O Comando Vermelho foi formado pelos presos comuns influenciados pelos presos políticos da galeria LSN, frente as demais Falagens dividas pelos corredores do presídio da Ilha Grande na época da Ditadura Militar, fato devido pela camuflagem do sistema repressor que, através do artigo 27 da Lei de Segurança Nacional de 1969 (LSN), escondia que no Brasil existiam presos por caráter ideológico. Portanto, foram aglomerados os presos comuns que estavam marginalizados, e os presos políticos que queriam incluir as massas na sociedade.

Essa cidade partida que entende que o seu ponto de união é a implantação de novas UPPS nos territórios dominados seja pelo tráfico de substâncias ilícitas ou cobrança de impostos por transportes alternativos e demais atividades clandestinas feita pela milícia, se encontra à um passo da luz do fim do túnel  tão logo as UPPS ocupem os lugares que restam.

MV Bill se coloca à favor da “legalização da educação antes da drogas”, o governador do estado se põe a favor da descriminalização das drogas “leves”, seu secretário de segurança se coloca a favor da discussão da liberação da mesma droga para camadas diferentes  da população. João Salles e Kátia Lund se declaram à favor da legalização e seu capitão da Tropa de Elite desiste da polícia, sendo também a favor.  José Padilha e seu intérprete do capitão Nascimento também se declaram a favor da legalização da drogas e, inclusive o antropólogo e maior especialista em Segurança Pública do país, Luis Eduardo Soares, também se posiciona à  favor da liberação das drogas em toda a escala, da produção ao uso; enquanto a nova presidente da República foi pressionada  pelos evangélicos a assinar uma carta-compromisso onde se colocaria contra os temas polêmicos como o legalização do aborto e união oficial dos homossexuais sem citar a questão das drogas, sendo a “favor da vida”. O que numa contrapartida, seria o cerceamento do Estado laico perante a liberdade do cidadão em decidir pelo seu destino ou escolher os seus experimentos na vida. Essa convergência de opiniões entre intelectuais diverge do controle social atualmente estabelecido.

Num regime democrático, após ampla discussão, restaria realizar um plebiscito sobre a legalização das drogas e aborto, assim como foi o referendo sobre o desarmamento em 2005.  A banda honesta da polícia naturalmente irá acompanhar com orgulho e fazer a segurança da população na marcha pelo fim da proibição do comércio das drogas e, principalmente das armas, quando esse dado momento chegar.

Os jovens da faixa etária situada na considerada “linha de risco“, se desenvolvem diante desses temas ainda tidos como tabus da história da humanidade tais como homossexualismo, gravidez precoce, e esse esforço mundial contra o libelo das drogas, quando deveriam ser tratados de maneira corajosa e sem preconceitos, tendo em vista a prática livre do consumo de álcool e tabaco (para maiores de idade) com campanhas preventivas, assim como sexo com preservativo pra evitar as DST’S e a gravidez indesejada; em razão de que a questão da descriminalização do aborto e das drogas acabam se confundidos como problemas da segurança pública quando deveriam ser cuidados sob a esfera da saúde pública.

O consumo de determinadas substâncias é comprovado desde que o Homem se entende por gente e ousa experimentar a sua sensibilidade, e a questão da proibição pelas vias do comércio estatal dessas substâncias ditas alucinógenas, vai de desencontro com a boa vontade da classe dominante. E por outro lado, o consumo das drogas pesada e caras é, comprovadamente, financiada pela burguesia. Por trás dessa hipocrisia se esconde esse tentáculo sustentado pela lavagem de dinheiro desse problema social. Mantém o conservadorismo sem avançar no raciocínio para a solução do tráfico e da milícia. A comercialização regulamentada pelo Estado dessas substâncias psicoativas, de imediato, iria por fim ao mercado de compra e venda de armas entre ramificações na polícia e nas forças armadas para os traficantes e milicianos.

A permanente ocupação das UPPS em todos os territórios dominados pela marginalização será a luz no fim do túnel dessa “Guerra Particular” onde a descriminalização da pobreza permitirá a dignidade das pessoas de bem terem seu diretos mais básicos assegurados pelo Estado uma vez que a patrulha ideológica talvez não esteja aparentemente mais explícita que a patrulha social ao redor dos morros e subúrbios. Conforme ratificam Luis Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Batista não existe democracia sem polícia, no que depende da reformulação dessa instituição, para que finalmente, comece a promoção da ordem pública e da paz social no Rio de Janeiro face as pacificações nos lugares condenados pela violência. Emergenciais definições são essas para o ano de 2011 o quanto antes. Em razão de o nosso tempo permanecer como “tudo está como dantes, no quartel de Abrantes” onde o império era regulamentado pelas instituições religiosas e a Corte.

Paulo Mileno – Ator e Técnico em Segurança no Trabalho