Num feriado onde banhistas aproveitaram o dia de sol e forte calor pra se refrescar nas praias no Rio, da orla que compreende do Arpoador até o Leblon, foram registradas cenas que não se via já algum tempo, mais precisamente desde o governo da Benedita, a mulher “negra de origem pobre e favelada”. Nessa época, um grupo de empresários de ônibus chegou a defender que se tivesse “menos ônibus” afim de evitar “mais favelados, suburbanos e negros”, os suspeitos de sempre, conseguirem ter acesso à praia.

Quem não se lembra, foi uma época em que a violência estava tomando proporções maiores que a força de estado podia controlar. Apenas a título de curiosidade. Se existe mesmo um antes e depois na área de segurança pública, em que as forças de Estado tentam, por meio da presença, neutralizar a aparente força do poder paralelo, vai aqui uma dúvida comum. Necessário UPP nas praias? Esse problema crônico da violência se resolve aumentando o efetivo de policiais nas ruas? Outrora, as gangues de playboys praticantes de artes marciais estavam com carta branca para ser tornarem as milícias d’areia.

A pressão que existiu sobre Benedita da Silva, logicamente não será a mesma sobre Sérgio Cabral, embora o motivo relembre. O contexto é outro, embora o problema seja o mesmo. Sérgio já tem problemas demais na cabeça e numa demonstração de que continua a harmonia entre os governos municipais, estaduais e federais, Dilma Rousseff veio à público sinalizar que seu governo “está ouvindo” as ruas, mas tampouco ligou em particular para seu companheiro Sérgio Cabral no tocante a repressão violenta de seus policiais, e quem diria, nada se responsabiliza por mandar bater nos professores.

 Dilma diz ter ouvido o que as ruas ecoaram, mas o coro “Fora Cabral” parece que não entendeu bem. Ou esqueceu. Ao que se parece, Dilma vai convidar Cabral para seu ministério para que o mesmo continue (dê um fôlego face o desgaste) na sua carreira política.

E o arrastão dos bandidos que desceram os morros vigiados pela polícia, como evitar um novo verão do arrastão?  Saindo Cabral do Governo do Estado (ao fim de seu mandato ou antes), que o próximo governador (quem quer que seja, de qual partido for) e ao atual prefeito atuem em conjunto ou ‘harmoniosamente’ (como preferirem) e dê um passo consistente na direção do curso, diminuindo a velocidade, da criminalidade e violência. Hoje, como sabemos, os estudantes, trabalhadores, professores e todas as classes de progresso no país, são tratados como bandidos.  Alguma coisa deve estar errada.

Creio que até 2016 nosso calendário de reivindicações não terá uma data exata para eclodir novos ‘arrastões’ massivos por uma democracia social justa. Mas essas explosões de cidadania digna ocorrerão como ondas. Veremos que nosso saldo de medalhas na proporção de um país continental não chega perto de seu tamanho porque nossas potencialidades não são atendidas.

Os arrastões de desesperados contra quem ‘tá’ bem de vida e pode descansar tomando um banho de praia, pode ser entendido que seremos sempre pegos de surpresa  pelo inimigo a espreita que percebe que relaxamos em algum momento. E em momento algum foi dada a mesma condição de se cuidar, visto que o pivete tem uma cara feia, seu nível de estresse o deixa com uma cara irritada, pronto pra atacar.

Se negamos momentos de lazer pra descontração, horas oportunas de estudo com qualidade, esporte para formação tanto do corpo como da mente e etc., estamos encaminhado uma parcela da sociedade pra margem. Se a única política pública direcionada para continuar o processo de marginalização do cidadão (como deveria ser) é a polícia, não demora muito para termos arrastões nas cachoeiras. E isso não é nenhuma previsão, é só acompanhar o fluxo do rio pra ver onde todos nós iremos desembocar.

Poderemos começar entendendo o que temos à ver com um “favelado desgraçado” e nosso sentimento, de que, queremos mais é que se explodam esses pobres coitados. Nesse mesmo senso de justiça, eles também foram desumanizados: dão soco na cara e atacam sem dó nem piedade.

 

Paulo Mileno é ator