Li com enorme interesse e satisfação o livro “Perseguindo um sonho”, no qual André Fernandes narra a história da criação e consolidação da Agência de Notícias das Favelas. Foi incrível conhecer com riqueza de detalhes a trajetória deste meu caro colega e amigo, sobretudo porque esta revela uma pessoa que eu sempre soube extraordinária, bem como a origem de sua luta pela democratização da informação nas favelas do Rio, onde a presença da ANF se faz tão notória e necessária.
Entre os muitos momentos que atraíram especialmente minha atenção no decorrer da narrativa, destaco aqui alguns. Um é aquele no qual André se dá conta de que o trabalho que vinha realizando seria ainda mais abrangente e eficaz se sua luta não envolvesse somente o grupo religioso que integrava, optando, a partir de então, por um trabalho que não seria guiado por uma religião específica, mas atenderia e uniria, independentemente de quaisquer rótulos ou crenças, todos os que se interessassem em participar da luta – que, afinal de contas, vai muito além de qualquer religião, sobretudo ao trabalhar em defesa de algo com uma magnitude infinitamente maior: a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Também destaco o período do Movimento Favelania, cujo manifesto – escrito em 1998 – salienta alguns pontos fundamentais sobre as questões sociais envolvendo as favelas e a ausência e omissão do Estado nesses locais – e, nesse contexto, vale lembrar a distinção que André faz entre os termos ‘comunidade’ e ‘favela’ no capítulo oito do livro.
Além disso, ao narrar episódios que envolvem personagens conhecidos na história do Rio – como o então traficante Marcinho VP –, André contextualiza as favelas cariocas, propiciando ao leitor um melhor entendimento de como estas se encontravam na época dos fatos narrados. O mesmo digo com relação à referência feita ao livro “Abusado”, do jornalista Caco Barcellos, e a presença do próprio André, como o personagem missionário Kevin Vargas, no mesmo. São fatos que marcaram época.
Desse modo, conhecer a história do André e da ANF pelas páginas de seu livro é também conhecer uma série de acontecimentos cujo principal cenário são as favelas cariocas. Ou seja, é a história do próprio Rio que está no livro, sob o ângulo de suas favelas – uma visão e tanto!
Tive a oportunidade de conviver com o André e ver de perto seu trabalho na organização, quando atuei por alguns meses como editora do jornal A Voz da Favela em 2013 – trabalho do qual me orgulho. Também por isso foi tão bacana conhecer sua trajetória desde seus primeiros passos – anteriores à fundação da ANF – até os dias de hoje, em que sua luta permanece mais firme do que nunca.
Meus parabéns a você, André, por ter tornado o seu nobre sonho possível, e pelo seu empenho, durante todos esses anos, na defesa dessa causa, que tanto te moveu até aqui. E, claro, parabéns pelo lançamento do livro, que dá aos leitores a oportunidade não apenas de conhecer mais de perto a história da organização que você dirige, mas entender por que você o faz com tanta fé e paixão.
Vida longa à ANF e ao seu trabalho! Que pela frente venham muitas vitórias!